terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O MEIO FÍSICO, A NOÇÃO DE SISTEMAS, E O MANEJO ADEQUADO


Marco Antônio de Morais Alcantara

#Meiofísico #IntervençãoUrbana #Degradação


Tipos de sistemas de interesse em geomorfologia

         
Este assunto merece grande importância quando fazemos a seguinte interrogação: onde, e como, eu estou intervindo? Quais poderiam ser as possíveis consequências do modo pelo qual eu estou intervindo?


Neste sentido vale a pena destacar a situação do meio físico como sendo a associação de sistemas, os quais podem ter interdependência. Esta visão é apresentada em Christofoletti (1980), da qual alguns conceitos serão explorados.

De acordo com o autor, um sistema pode ser compreendido como sendo tanto um conjunto de elementos, como de suas relações entre si, ou de seus atributos.

Um sistema na natureza pode ser isolado, ou não isolado, caso ele troque ou não matéria e energia com os outros sistemas. Um sistema de interesse em geomorfologia é um sistema aberto. Nestes, normalmente se pode distinguir: matéria, energia e estrutura. Matéria é aquilo que o sistema mobiliza, como a água e os detritos. Energia é aquilo que movimenta o sistema, como a gravitacional, e, estrutura expressa relação de uns elementos com outros.

No caso do sistema geomorfológico, a vazão, a declividade, e a infiltração, podem apresentar relações entre si, com correlações devidas a cada situação.

         Quando se considera um conjunto de atribuições físicas, tem-se um sistema morfológico, e estes, por sua vez, podem também ser compreendidos como “sistemas em sequência”, ou, de “sistemas de processos e respostas”.

Um sistema em sequência compreende uma associação de subsistemas, possuindo atribuições espaciais e geográficas, e que são dinamicamente relacionados por uma cascata de matéria ou de energia. A saída de matéria ou de energia de um subsistema implica na entrada deste para outro subsistema adjacente. Também, cada subsistema possui mecanismos reguladores para controlar a entrada e saída de energia destes. Como exemplos, pode-se citar a absorção d’água e a retenção desta pelo terreno, dependentes da textura e estrutura do solo. Ainda, a vazão de um curso d’água pode ser limitada pela declividade e pela rugosidade das paredes.

Estes tipos de sistemas são apresentados a seguir, nas sessões seguintes, e alguns exemplos de Christofoletti (1980) são oportunos para ser apresentados, pois eles podem fornecer indicativos sobre os resultados decorrentes da intervenção urbana.


Sistema em sequência


         Um exemplo de sistema em sequência é o ciclo hidrológico. Podemos pensar na água que cai da atmosfera por precipitação, e que incide sobre uma vertente. Esta poderá ser infiltrada e alimentar os lençóis, o qual poderá alimentar as plantas, ou os rios por escoamento sub superficial. A parte não infiltrada deverá se escoar pela superfície e também alimentar os rios e os mares. A água poderá retornar para a atmosfera por evaporação ou evapo transpiração. No caso, a existência de mecanismos reguladores é quase desnecessária de ser apontada.

Sistema em sequência


Sistema de processos e respostas

         Os sistemas de processos e respostas têm características de sistemas em sequência e de sistemas morfológicos. Estes possuem sistema de retroalimentação, os quais podem ser reguladores tanto no sentido de se anular a ação que provocou a interferência, como de se reforçar estas ações. Também, tanto se pode ter uma ação benéfica, como, do contrário, a ação imposta pode conduzir o sistema a auto destruição. Alguns exemplos: Em se aumentando a capacidade de infiltração de um terreno, pode-se, como consequência, diminuir a densidade de drenagem, e em contra partida, haverá a diminuição da declividade das vertentes, conduzindo ao aumento da capacidade de infiltração do terreno, o que vem a reforçar a ação imposta inicialmente. 

Outro exemplo de sistema, e de auto regulação é este no sentido de se anular a ação: tem-se que, em se aumentando o volume de água em um rio, neste caso, a velocidade da água irá aumentar, visto que a vazão será maior e a seção transversal do canal ainda se conserva; este aumento da velocidade da água poderá provocar a erosão das margens, e, com o aumento da largura desta, a velocidade da água tenderá á diminuir, até que o efeito seja negligenciado.


Sistema de processos e respostas, caso de retro alimentação com auto-regulação

Finalmente, como um exemplo de sistema autodestrutivo, tem-se o caso do desmatamento. Diante do desmatamento, é diminuída a capacidade de infiltração do terreno. Como consequência, têm-se o aumento do escoamento superficial, e por consequência, o aumento do processo erosivo nas vertentes. O aumento da erosão nas vertentes contribui para a nova diminuição do da capacidade de infiltração do terreno, com o aumento do escoamento superficial e erosão até se chegar na rocha sã.


 Sistema de processos e respostas, caso de retro alimentação com auto-destruição 

Bibliografia


CHRISTOFOLETTI, A. Introdução à geomorfologia, São Paulo, Edgar Blücher, 1980, 200p. 




Sobre o autor:Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004);  e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.