terça-feira, 21 de abril de 2020

O AR EM QUE VIVEMOS



Créditos pela Foto: Marcelo Alcântara

Marco Antônio de Morais Alcantara

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A qualidade do ar é sem dúvidas um assunto de interesse coletivo. Esta vai depender do tipo de atividade que é exercida pelo setor produtivo de uma sociedade, assim como de fatores naturais decorrentes de fatores meteorológicos, sazonais e morfológicos. O ar por sua natureza está sujeito a ter mobilidade, seja na direção horizontal ou vertical. A sua condição, em decorrência de fatores de  naturais ou antrópicos, poderá vir a penalizar as pessoas que estão sujeitas às contingências formadas. Fatores como saúde, bem-estar ou produtividade podem ser afetados, de modo que, o seu condicionamento deverá quando possível depender das ações públicas, privadas e da sociedade.


Fatores naturais e morfológicos no papel da definição das condições do ar

A dinâmica da atmosfera e a condição do ar

Para entendermos a importância da dinâmica da atmosfera para as condições do ar, precisamos inicialmente entender sobre como as condições da temperatura e da pressão do ar podem variar função da altitude. Neste caso, deve-se considerar que as “condições dominantes” da atmosfera podem interferir no sentido de se proporcionar as condições de instabilidade ou de estabilidade, no sentido de poder favorecer a dispersão ou a permanência dos poluentes.

A lei de variação da temperatura com a variação da altitude.

Pelo regime conhecido como “ideal adiabático”, a variação da temperatura com a altitude é dada por 1o C/100 m de altitude. Esta variação é a condição para o caso do ar seco e puro. Com as condições de umidade e com a presença de partículas no ar este sistema pode ser modificado. Dentro das condições reais, pode-se considerar que o regime dominante esteja configurado de modo a obedecer a outros regimes, como o “super-adiabático”, o sub-adiabático, ou com a inversão da temperatura.

A Figura 1 procura ilustrar as relações entre as temperaturas com a altitude, para os referidos casos. A inversão térmica se constitui em um caso onde a temperatura do ar tende se aquecer com a altitude, contrariamente aos outros casos apresentados.

Figura 1: Regimes de temperatura com a altitude

Independentemente do lugar, e das condições reinantes na atmosfera, o ar que se movimenta tenderá sempre a ter a sua temperatura variando de acordo com a lei geral de variação, dada por 1oC/100m, e então esta sofrerá a influência da temperatura do local da altitude em que ela alcançar, conforme o regime que seja predominante.


Em um regime dado segundo condições adiabáticas ou super-adiabáticas, a ascensão tenderá a promover a turbulência e a instabilidade, de modo que o ar quente suba; por outro lado, quando em um regime de inversão térmica a atmosfera tende a se tornar estável, com a ausência de movimentação de ar. Isto pode contribuir para que a dispersão dos poluentes seja dificultada, conforme ilustram as Figura 2 e 3, para os casos normais, sob s regimes adiabáticos e os de inversão térmica. 

Figura 2: Regime adiabático e a condição de dispersão de poluentes 

Figura 3: Inversão de temperatura e a não dispersão dos poluentes

O fenômeno da inversão térmica é marcado pela presença do ar quente que se instala nas camadas superiores da atmosfera, e isto pode estar relacionado com fatores diversos. Um deles é o horário do dia, devido ao fato de que, à noite, com o resfriamento do solo, este se conserva sob um manto de ar quente. Pela manhã, com o aquecimento, ele tende a diminuir e desaparecer. Ainda, as estações do ano podem influenciar nas condições favoráveis para a inversão térmica, em particular as estações mais frias.


Quanto à morfologia das cidades e de lugares, os lugares de regiões de vales, como na Figura 4, ou com barreiras montanhosas, que impedem a movimentação horizontal do ar, estão sujeitos aos fenômenos da inversão térmica. A velocidade do vento e a sua direção são importantes neste processo, visto que, com o aumento da velocidade, a quantidade de ar movimentada é maior, com a possível dispersão de poluentes; assim como, as possíveis limitações quanto às direções, podem dificultar a dispersão e remoção de poluentes.  

Figura 4: Morfologia, cidade em vale ou com barreiras para o movimento do ar e a dispersão dos poluentes 

Uma outra questão são os movimentos do ar e as suas relações com as correntes de convecção.

Em regiões costeiras é comum a ocorrência da brisa do mar, a qual pode variar de sentido conforme o horário, se dia ou noite. Durante o dia ( Figura 5) o solo é aquecido e o ar tende a subir, criando uma região de baixa pressão; enquanto isso, a água do mar possui maior inércia térmica, e isso contribui para que se criem condições de uma zona de convecção.
Figura 5: Condições para a formação da brisa marítima 

Durante a noite (Figura 6) a cidade se resfria, e o fenômeno se inverte. Em ambos os casos as correntes do ar podem conduzir poluente, seja da cidade para o mar, ou no sentido inverso.

Figura 6: Condições para que se forme a brisa terrestre


Pode-se considerar também as influências decorrentes da morfologia da cidade enquanto ambiente construído. Edifícios altos podem modificar o entorno trazendo a formação de redemoinhos. Ainda se considera a dinâmica, onde o ar quente concentrado no centro da cidade se expande, flui para áreas externas, se resfria e se precipita com os poluentes (Figura 7).

Figura 7: Influência da morfologia urbana construída na concentração de poluentes


Afinal, quais são os poluentes principais com os quais se convive no meio urbano?

Esta questão está relacionada em grande parte com o fato de que os poluentes são resultantes da atividade antrópica. Existem sim alguns casos onde os poluentes são procedentes de condições naturais. Os que são associados à ação antrópica são de modo geral resultantes de queima de combustíveis para a mobilidade urbana, e para o processamento industrial. Alguns estão em comum em ambas as fontes e outros são predominantes de um tipo de fonte.

São então apresentados os principais poluentes, independentemente da origem.

-Dióxido de nitrogênio (NO2) É produzido pela ação da temperatura, na queima de combustíveis, de modo que o N2 da atmosfera se combine com o O2.

_Monóxido de carbono (CO): É produzido mediante a queima incompleta de combustíveis, seja pela quantidade insuficiente de oxigênio, ou seja pela ineficiência do equipamento, dadas pela falta de manutenção, ou das condições de escoamento do ar, ou ainda devido à baixas temperaturas. Podem ser enquadrados como fontes os veículos, indústrias, as usinas termoelétricas, fogões a lenha e lareiras.

-Ozônio ( O3 ). Este se diferencia dos demais casos apresentados em razão deste ser produzido diretamente da natureza. O agente principal para a formação do ozônio O3 é a luz do sol, a qual produz reações entre hidrocarbonetos reativos e o dióxido de nitrogênio, de modo a poder formar o ozônio e outros componentes.

Subentende-se que a produção de dióxido de nitrogênio pode contribuir para a formação de ozônio, a partir da luz solar, sendo este material transportado pelas correntes preferenciais de vento.

O ozônio possui um efeito deletério sobre o ecossistema natural, em particular enfraquecendo alguns tipos de plantas mais sensíveis, que poderão estar mais vulneráveis diante da ação de doenças, estresse, climática e de insetos.

-Dióxido de enxofre ( SO2 ). Este tem a origem na combustão de materiais que contenham o enxofre, dentre eles o petróleo, e os metais como o alumínio, ferro e cobre. Tem como forte procedência as atividades industriais. O enxofre sendo liberado para a atmosfera pode aí se oxidar com a formação do dióxido de enxofre SO2

-Chumbo (Pb). O chumbo tem o histórico de ser encontrado naturalmente em fontes antrópicas a partir do seu uso adicionado aos combustíveis, como um tipo de aditivo. Este tipo de utilização tem sido proibitivo em países desenvolvidos.

-Matéria particulada. Estas podem ser distinguidas entre as primárias e as secundárias. No primeiro caso se incluem as que são produzidas simplesmente por fracionamento, como é o caso do material procedente dos canteiros de obras. As secundárias são as procedentes da queima de combustível, processamento industrial, usinas termoelétricas e outras.

A matéria particulada pode ser diferenciada pelo seu tamanho de partícula, distinguindo-se as partículas finas, as quais compreendem as que apresentam o diâmetro médio igual ou menor do que 2,5 milimicras.

Dentre os poluentes considerados de origem não antrópicas, tem-se os casos de vulcões e incêndios florestais.

Como poluentes perigosos, podem ser citados os materiais radioativos, que podem ser lançados acidentalmente na natureza; pesticidas e resíduos de processamento industrial.

Em que a poluição atmosférica nos afeta?

Os materiais particulados podem influenciar na saúde humana, sob diversas formas, podendo implicar no comprometimento do sistema respiratório, irritações nos olhos, e ainda, se pode considerar a possibilidade de que eles não afetem somente o sistema respiratório, mas venham a ser conduzidos para a corrente sanguínea, trazendo disfunções de outros órgãos.

A qualidade do ar é um assunto de interesse social, visto que o seu impacto pode influenciar desde na ocorrência os casos de óbitos, como de doenças ou mal estar, inclusive que possam comprometer a produtividade.

Quais são as ações que podem ser feitas no sentido de se preservar a qualidade do ar.

Dentro do que foi apresentado, alguns dos fatores são de difícil alteração, como por exemplo os fatores morfológicos, relativos à área. Grande parte das emissões são de ocorrência dada pela atividade antrópica; dentre estas, muitas condicionadas às condições de processamento industrial. Neste caso, se pode interferir, por exemplo, nos processos físicos e químicos decorrentes destes, de modo que possam emitir menos poluentes ou produtos finais menos nocivos. Outra alternativa e até imprescindível é a utilização de filtros que possam reter os materiais poluentes, de modo que as emissões atendam às condições aceitáveis para que elas sejam lançadas na atmosfera.

Com relação às emissões, sejam as quantidades em massa de poluentes, estas podem ser conhecidas de modo a poder se tomar ações de controle, e, sobretudo se possível, contar com o apoio da população, quando advertida pelas autoridades sobre as condições críticas quando elas ocorrerem. Para o caso de materiais particulados, a quantificação do nível de emissões em uma região pode ser realizada através de um amostrador que funciona conforme o sistema onde um acessório do tipo de um “aspirador de pó “ força mais de 2000 m3 de ar durante o período de 24 horas. O dispositivo é pesado antes e depois de entrar em operação, e pela diferença dos valores pode ser quantificada a quantidade de matéria particulada que foram colocados. Dessa forma pode-se quantificar as emissões em g/s.

 Referências bibliográficas de apoio

MIHELCIC, J.R; ZIMMERMAM, J.B. Engenharia Ambiental, fundamentos, Sustentabilidade e Projeto. Rio de Janeiro, 2012, LTC, 617p.

MOTA, S. Planejamento urbano e preservação ambiental, 1981, Fortaleza, U.F.C, 241p.

VESLIND, P. A; MORGAN, S.M. Introdução à Engenharia Ambiental, São Paulo, 2011, CENGAGE learning, 438p.