quinta-feira, 30 de abril de 2020

A PROBLEMÁTICA DA GESTÃO DAS ÁGUAS NOS MEIOS FÍSICO E URBANO




Marco Antônio de Morais Alcantara

#QualidadeDaÁgua #TratamentoDaÁgua #TratamentoDeEfluentes #PreservaçãoDoMeioFísico


A água pode ter diferentes meios e formas de acesso ao ambiente urbano. Do ponto de vista natural estas podem ter acesso por meio de precipitação, assim como através das correntes dos cursos d’água, ainda por fontes naturais. Do ponto de vista da atuação antrópica, ela pode ser coletada de mananciais, e aduzidas para o meio urbano, explorando águas subterrâneas, através de poços por bombeamento, podendo este procedimento ser realizado por um órgão de interesse público ou particular. Tratando-se de águas coletadas e armazenadas para o consumo, segundo as demandas do meio urbano, pode-se considerar que a grande parte destas sejam coletadas através de reservas superficiais ou de águas subterrâneas, sendo recalcadas para estações de tratamento.

As águas coletadas da superfície ou da profundidade podem apresentar diferentes contingências ou limitações, decorrentes de suas condições de exposição e da interação com o meio físico. As águas superficiais podem conter constituintes diversos tais como matéria orgânica natural e artificial, produtos químicos, suspensões ou ainda micro-organismos patógenos prejudiciais à saúde humana. Por outro lado, as águas subterrâneas estão sujeitas a serem influenciadas preferencialmente pelo contato desta com os elementos inorgânicos presentes nas rochas e nos minerais, não se descartando as possibilidades de contaminação por elementos orgânicos ou elementos químicos presentes no solo, os quais são infiltrados e carreados pelo escoamento subsuperficial.

A água in natura é reprovada para o consumo direto, por ser um potencial para a ocorrência de doenças tais como as diarreias, hepatites e outras, além de causar perturbações no sistema urinário. A composição da água é considerada ainda importante diante da questão da “dureza da água”, provocando o baixo rendimento em formação de espumas no contexto prático, e ainda causando o desconforto ou o incômodo físico aos utilizadores. Ainda pode se citar a questão do sabor ou do odor da água, os quais causam o incômodo e mesmo a recusa no consumo de determinada água.

As águas coletadas do manancial para consumo são encaminhadas para os sistemas de tratamento, denominados por Estação de Tratamento de Água (ETA). Dentro de processos diferenciados, a água pode ter a eliminação dos seus riscos potenciais e das características negativas ao consumo.

Uma vez atendido o tratamento, a água é conduzida aos reservatórios da cidade, de modo a estar disponível para o consumo. A Figura 1 ilustra o trajeto da água até chegar à distribuição.

Figura 1: O trajeto da água da captação até a distribuição.

A Figura 2 procura ilustrar as etapas do tratamento da água, dentro de sua característica mais comum. .


Figura 2: Etapas do tratamento da água

Os processos de tratamento da água envolvem ações químicas, físico-químicas, e físicas. Pelos processos químicos e físico-químicos, situados em (1) e (2), considera-se o papel da troca iônica e as substituições para a redução da dureza da água, e a interferência na estabilidade das partículas, de modo a poder favorecer a coagulação e a sedimentação das partículas, por gravidade (3), reduzindo-se desta maneira as suspensões sólidas; a filtração é útil para reduzir suspensões e micro-organismos (4), e a desinfecção conduz a eliminação de micro-organismos patógenos (5) A desinfecção se dá normalmente por meio de produtos químicos, e o cloro é o que é mais utilizado. A quantidade de cloro incorporada pode atribuir à água pode incorporar um sabor característico, não agradável, contudo, isto também decorre de que a quantidade de cloro incorporada à água tem por objetivos proteger esta ao longo dos sistemas de distribuição.

Índices de qualidade são exigidos para as águas tratadas e disponibilizadas para o consumo, estes normalmente são: (i) ausência de turbidez, que indicam a presença de substâncias sólidas e suspensões. As suspensões podem estar associadas também a presença de micro-organismos; (ii) baixa dureza; (iii) ausência de micro-organismos patógenos; (iv) ausência de cor ou odor. Esta água é água limpa.

A previsão de demanda se torna uma questão importante, considerando fatores como a população (i), horários de maior consumo (ii) hábitos da população (iii) e reserva para situações emergenciais (iv), tais como a necessidade de utilização da água para conter incêndios, ou de possíveis interrupções no serviço de captação. Populações diferentes podem ter diferentes consumos diários de água, assim como, quando a água é captada de mananciais superficiais, pode haver variações sazonais ao longo do ano na disponibilidade desta do manancial.

Após a reservação, vem a distribuição da água, em atendimento às diferentes demandas tanto residenciais como comerciais, e de edifícios de uso institucional, tais como escolas, serviço público e creches. Hortas podem ter o consumo direto da rede pública, assim como pequenas empresas de processamento.

As redes de distribuição devem propor a melhor funcionalidade, de modo que a água chegue a té ao consumidor dentro das condições adequadas de vazão e de pressão na rede. A pressão na rede contribui do ponto de vista sanitário de modo a não facilitar a contaminação da água.

Dentro do estágio da utilização da água como a “atividade-fim”, o que se tem de característico é o contato desta com as atividades antrópicas, tais como as de alimentação, higienização, limpeza de edificações, recreação, processamento industrial, jardinagem e agricultura, entre outras coisas. Neste sentido poderão ser incorporados à água a matéria orgânica, excretada do organismo dos seres vivos, ou de origem sintética, a partir de produtos utilizados no cotidiano, além das matérias orgânicas de outras fontes como de origem de posas de jardim; tudo classificado como Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) ou Demanda Química de Oxigênio (DQO); ainda, podem ser considerados os elementos químicos tais como o nitrogênio e o fósforo, oriundos da deposição da urina ou dos fertilizantes utilizados no meio urbano; e somam-se os elementos químicos resultantes de processos industriais, e de herbicidas.

Uma vez sido utilizada a água, esta tem o seu retorno ao meio físico, a partir das diferentes condições em que ela foi utilizada. A água servida retorna pelos sistemas de esgoto. Os sistemas de esgoto podem ser considerados como sistemas unitários ou sistemas separatistas, sendo que, os unitários conduzem tanto a água coletada do esgoto doméstico como dos coletores de águas pluviais. Normalmente se tem utilizado os sistemas separatistas.

Quanto aos sistemas de águas de drenagem urbana, estes são concebidos de modo que o escoamento pode ser procedentes de vias, guias e sarjetas, e de bocas de lobo para os coletores secundários, seguindo-se para as galerias de drenagem e finalmente para os emissários, os quais lançam a água no meio físico, devendo haver cuidado como os impactos no meio físico. Esta água é contaminada, tanto por elementos presentes nas vias, tais como dejetos de organismos de animais, como de possíveis lançamentos clandestinos de redes de esgoto em sistemas de águas pluviais.

Os sistemas de redes de esgoto são constituídos por sistemas primários, secundários, interceptores e emissários. As características dos esgotos não permitem o seu lançamento diretamente no meio físico, devido ao fato destes conter contaminantes à saúde, e ainda do fato de que estes possam poluir os cursos d’água, pelo aumento da D.B.O. Por esta razão é normalmente realizado o seu tratamento antes de poder lançá-lo no corpo receptor. A Figura 3 ilustra a trajetória de retorno da água utilizada para o meio físico.

Figura 3: Trajetória da água residuária desde os pontos de utilização até o retorno ao meio físico 

O tratamento do esgoto compreende três fases: (i) tratamento primário, (ii) tratamento secundário, e (iii) tratamento terciário. No tratamento primário são removidos os sólidos, e ainda é reduzida aproximadamente 30% da D.B.O; isto se dá pelo processo físico de sedimentação em um decantador. Segue-se o secundário, tratamento biológico, em duas fases. Na primeira fase o esgoto é disposto em um tanque de aeração, onde, através da oxigenação do efluente, possam sobreviver bactérias aeróbicas, que se alimentam da matéria orgânica, oxidando-a, e desta maneira reduzindo a D.B.O. Em fase seguinte o material é conduzido ao decantador, onde, as bactérias em suspensões sedimentam-se até o fundo. Neste local não há alimentos. Uma parte deste material é conduzida para fora, para uma fase de desinfecção, enquanto que outra retorna ao tanque aerado juntamente com as suspensões, e que é conhecido como o “lofo ativado”, e as bactérias nesta fase são ávidas por alimento e, desta forma, elas continuam a promover a oxidação da matéria orgânica e a queda da D.B.O. A Figura 4 ilustra as etapas do tratamento de esgotos por "lodos ativados". 

Figura 4: Tratamento de esgotos pelo processo de tratamento biológico por lodos ativados

Como variáveis de projeto para as estações de tratamento se tem a vazão, o volume dos tanques e o tempo de retenção.

Uma observação importante é que, no tanque de aeração se dá também a reprodução de micro-organismos, e isto contribui para o aumento do lofo formado; e por esta razão nem todo lodo do sedimentado no decantador é aproveitado para retornar ao tanque de aeração, sendo uma parte dele descartado, e isso é assunto de novas atuações no tratamento do esgoto.

Os tratamentos prosseguem com a filtração e a desinfecção do efluente tratado biologicamente, de modo a poder ser lançado no meio físico, é o tratamento terciário.

Conforme a preocupação ressaltada com relação ao lodo descartado do processo, existem alternativas complementares para a continuidade deste material que foi subtraído. Uma delas é a digestão anaeróbica com a produção de metano, e do metano com o oxigênio pode-se ter a formação de gás carbônico e de água. Este material é digerido. No final, uma das preocupações que se tem é quanto ao seu desaguamento, assim como o lançamento da parte sólida; obtém-se um produto que pode ser recuperado ao meio físico de formas diversas. Uma delas é a incorporação ao solo para a compostagem e a produção de adubos, outra é o lançamento dela em áreas de inundação ou em lagoas de estabilização.

Nos dois sistemas o material é induzido aos processos de degradação biológica, tanto sob condições aeróbicas como em condições anaeróbicas. Isto vai depender da profundidade e das condições para a presença de oxigênio. Onde existe a sedimentação do lodo o processo se dá por condições anaeróbicas, enquanto que nas regiões oxigenadas o processo se dá mediante condições aeróbicas. No caso de lagoas de estabilização a parte superior pode ser penetrada pela luz, e a presença de algas contribuem para produção de oxigênio por fotossíntese; já na região inferior, de acumulação de lodo, prevalecem as condições anaeróbicas, e na região intermediária ocorre uma zona anoxa, facultativa. A figura 5 ilustra uma lagoa de estabilização.

Figura 5: Lagoa de estabilização 

Para o caso de áreas inundadas, a seção transversal pode ser tal que exista uma região superior, rasa, de aproximadamente 0,30m de profundidade, sendo identificada na ilustração por Zona 1 e Zona 3; se considera ainda uma outra região mais profunda, caracterizada por um canal, de aproximadamente 0,9m de profundidade, compreendida pela Zona 2. As regiões superficiais atuam como regiões anaeróbicas. Plantas podem ser cultivadas na parte superior, de modo que, com o movimentos das águas, se possa sofrer a influência dos caules, e possa se promover a oxigenação da água. A Figura 6 ilustra uma região denominada por zona de inundação.

Figura 6: Zona de inundação.

Uma questão importante quanto aos sistemas naturais de tratamento como os de áreas de inundação e os de lagoas de estabilização é a redução de custos, em especial com a aeração para se manter vivos os micro-organismos; por outro lado, estes sistemas requerem áreas de terreno disponíveis.


Bibliografia consultada

MIHELCIC, J.R; ZIMMERMAM, J.B. Engenharia Ambiental, fundamentos, Sustentabilidade e Projeto. Rio de Janeiro, 2012, LTC, 617p.

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PEREIRA NETO, J.T. Gerenciamento do lixo urbano aspectos técnicos e operacionais. 2007, Viçosa, UFV, 129p.
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