quinta-feira, 30 de abril de 2020

O QUE FAZEMOS COM O TANTO QUE PRODUZIMOS ?




Marco Antônio de Morais Alcantara

#GerenciamentoDeResíduos #ReciclagemDeMateriais #ManejoDoMeioFísico


Qual é o contexto dessa geração dos resíduos sólidos, e de onde eles vem?

Pode-se considerar que a sociedade atual é marcada pela crescente utilização de materiais sintéticos, necessários para viabilizar os produtos utilizados no dia a dia, tais como, os para conter os nossos alimentos, assim como os produtos de higiene e de limpeza, e assim temos: papéis, plásticos de diversas origens, vidros descartáveis, não desconsiderando ainda os materiais inservíveis tais como metais de equipamentos não mais operantes, produtos eletrônicos, e outros de composição diversa, podendo conter derivados desses materiais típicos.


Dentro deste contingente chamado de “resíduo sólido”, pode-se ainda considerar os materiais orgânicos, como os restos de alimentos, as podas das árvores, e os materiais derivados dos cortes de grama e de manejo de jardins.

Um material também sujeito a ser enquadrado neste montante é o produto resultante das estações de tratamento de esgoto, o lodo procedente de tanques de sedimentação, e que não foram submetidos ainda aos processos de digestão anaeróbia com a produção de gás e desaguamento.

O problema do gerenciamento dos resíduos sólidos é crescente com o desenvolvimento da humanidade, mais notadamente após o período da revolução industrial, mediante a elaboração de novos produtos, com maior complexidade, do aumento da população, bem como do consumismo em que a sociedade passou a viver. Complexidades surgem mediante as características dos produtos e as soluções que devem ser dadas para a destinação final.

O ciclo de vida ou de dos produtos também se alterou nos últimos anos, de modo a se ter um grande contingente de produtos inutilizados que se acumulam, requerendo lugar para descarte, assim como, a extração de produtos naturais se tornou também crescente frente ao aumento da população e da demanda por aquisição ou substituição de produtos.

Ações e posturas da sociedade

Ao se decidir sobre a destinação dos materiais, deve-se atentar para a peculiaridade destes; pois, as características dos resíduos sólidos são bastante diferenciadas, e mesmo entre os resíduos de um mesmo tipo, como no caso dos plásticos, com diferentes formulações; e, do mesmo modo, entre os metais. Dentre estas características podem haver aquelas que ditam o comportamento ou as reações diante das ações de um tratamento, assim como, o possível valor agregado para os casos de reutilização ou de reciclagem; e ainda, o potencial de dano a saúde pública por contaminação e de polarização de vetores transmissores de doenças.

A postura que se dará aos resíduos sólidos dependerá essencialmente do desenvolvimento social e econômico de uma sociedade.

O gerenciamento dos resíduos sólidos é necessário em decorrência das seguintes questões:
-Da proteção da saúde pública e do meio ambiente;
-em contribuir para a estética e eliminar a poluição visual;
-em aproveitar o potencial de reutilização ou de reciclagem, de modo a se diminuir a quantidade de materiais insumos apropriados do meio físico.

A visão atual sobre o que se trata o lixo tem sido modificada nos últimos anos. Segundo Pereira Neto (2007), o conceito sobre o lixo de que el seja “matéria sólida, que não é mais útil ou funcional” já não representa mais a sua compreensão, sendo hoje o conceito de lixo de que este é uma “massa sólida de resíduos sólidos resultante das atividades humanas, que podem ser reciclados ou parcialmente utilizados, gerando, entre outros benefícios, proteção á saúde pública e economia de energia e de recursos naturais”.

No caso da construção civil, por exemplo, blocos de concretos e de cerâmica podem ser transformados em insumos básicos como a areia e o agregado artificial para a produção de concretos e de argamassas.

De acordo com Mihelcic e Zimmerman (2011), o ecossistema da sociedade deve potencialmente se adequar ao que ocorre normalmente na natureza, onde tudo o que é gerado tende a ser consumido ou transferido para subsistemas de recuperação natural.

A Figura 1 procura apresentar uma visão geral deste possível ecossistema, com respeito à utilização e à destinação dos materiais.


Figura 1: Possíveis aproveitamentos dos resíduos

A taxa de materiais acumulados deve ser igual à taxa de materiais de entrada menos a taxa de materiais de saída, somados a taxa de materiais produzidos menos a taxa de materiais consumidos.

As ações que são normalmente tomadas operacionalmente diante do problema do gerenciamento dos sólidos urbanos são basicamente três: (i) coleta e transporte de resíduos das residências ou pontes de geração até o local de processamento; (ii) possível recuperação total ou parcial das partes úteis do resíduo, com os objetivos de recuperação ou reciclagem, e o (iii) processamento ou o descarte para o meio físico.

As características do lixo urbano

O lixo urbano pode ter diversos tipos de locais de procedência, e isto fará com que o seu conteúdo ou as propriedades destes possam variar. Por exemplo existe o lixo domiciliar, o lixo comercial, o lixo público e o lixo de fontes especiais.

As características do lixo são marcadas principalmente como: umidade, sendo atribuída da ordem de 1% para o lixo comum orgânico; peso específico, o qual pode variar conforme a procedência deste e dos materiais que foram manipulados em processamentos, tais como plásticos, metais, borracha e outros; concentração de nutrientes, tais como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e outros; relações entre as concentrações de carbono e de nitrogênio, que estão associadas à biodegradabilidade do mesmo; concentração de metais pesados, como o ferro, cadmio, alumínio, zinco, cobre e mercúrio, entre outros, e que indicam contaminação; poder calorífico, que indica o potencial para o aproveitamento energético.

Ainda não se pode descartar como características a presença de material contaminante de origem orgânica.

Os lixos residenciais, por exemplo, podem conter a predominância em matéria orgânica, e conter ainda papéis, plásticos, e outros, enquanto que o lixo comercial pode ter uma aproximação com este; já o lixo hospitalar pode conter resíduos bastante diferenciados dos lixos residenciais e comerciais, e o lixo industrial pode conter contaminantes de origem química.

Fatores de viabilidade das ações sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos

Os procedimentos para com os resíduos sólidos dependerá fundamentalmente da compreensão de uma sociedade acerca deles, em sua essência, e da importância do controle sobre estes de modo a se promover o seu aproveitamento, dentro do seu correto manejo, ou o seu correto descarte, coerente com a proteção da saúde e da natureza. Dependerá ainda dos recursos financeiros e de ordem pública, para gerir equipamentos, e do corpo técnico capacitado para a atuação sobre os processos que vão incidir sobre estes resíduos. Aos resíduos sólidos também se pode agregar valor, como na forma de bens, de produção de gás e de energia. O valor financeiro que o mercado incorpora aos resíduos, assim como os aspectos de custo/benefício, trazem complexidades sobre as decisões dos processos de tratamento ou de transformação.

A primeira etapa do tratamento é a coleta do material, a partir do local de geração. Este processo pode demandar duas coisas: um deles é a identificação do resíduo pelo gerador, usuário, ou se é identificado por especialistas. Mesmo entre materiais de mesma natureza pode haver diferentes formulações, de modo que o usuário simplesmente, muitas vezes, não é capaz de fazer a distinção, sobretudo com relação àqueles que, se incinerados, poderão favorecer a formação de gases nocivos à saúde ou ao ambiente. Por causa disso, muitas vezes os procedimentos finais de separação tem sido realizados na central de processamento, com pessoal especializado, e com a inclusão de etiquetas aos produtos específicos. Este caso inclui por exemplo os plásticos.

Processos físicos podem ser utilizados para a separação dos materiais, como no caso dos metais, com o auxílio de ímãs.

Quanto ao transporte, ele pode ser feito de maneiras diversas, como no caso em que o usuário leva o material até um local designado por “ecoponto”, ou então, o material pode ser coletado por meio de um sistema público de coleta, por caminhões apropriados, contidos os materiais em coletores plásticos que podem ser basculados para o interior dos caminhões.

Um aspecto importante para o processo de coleta e transporte é o da logística, de modo a poder reduzir custos que podem variar em função do trajeto estabelecido.

A Figura 2 apresenta um diagrama das fases de coleta, armazenamento e processamento dos resíduos.

Figura 2: Processo de coleta, avaliação e destinação dos resíduos

Sobre a natureza dos materiais e das viabilidades técnicas e econômicas, o aproveitamento dos resíduos sólidos, estará sujeito a alguns requisitos e contingências do mercado.

Os plásticos e ou metais são avaliados quanto às possibilidades de reutilização ou de reciclagem. Alguns dos produtos são compostos por ambos, e podem ser decompostos por fases diferenciadas, de modo que se proceda o reaproveitamento daquilo que for adequado. Não deve deixar de se observar também que, algum resíduo sólido pode estar contaminado com alguma coisa nociva à saúde.

O incentivo da reciclagem depende, entretanto, das condições de mercado, de modo a haver coletores para os casos tais como o dos metais, os plásticos e papéis. Infelizmente, as empresas que produzem materiais de consumo dispõem de antemão de um planejamento, o qual inclui tanto o consumo médio de seus produtos como a demanda de insumos para a fabricação destes produtos. Neste sentido, a aquisição de insumos “alternativos”, procedente da coleta de resíduos, pode variar de acordo com a demanda dos produtos, a qual pode variar, e da valorização dos resíduos como insumos.

Quanto à viabilidade econômica dos resíduos e a formação de uma classe coletora e intermediária entre a sociedade e as empresas, considera-se que a rentabilidade em si não é a mais atrativa, fato que grande parte da população envolvida com a coleta é aquela dependente economicamente. Contudo, conforme Pereira Neta (2007) o maior lucro da reciclagem está na preservação das condições de saúde da população e da natureza, poupando-a de mais intervenções, além de permitir a organização social em torno de reaproveitamento, e retirar pessoas catadoras dos lixões urbanos.

Alguns resíduos que são reprovados para a utilização como reciclados podem ser aproveitados para uma outra finalidade, a produção de energia. Para isso, se procede a incineração, com a produção de gases, os quais são resfriados mediante o contato com condutores de água de resfriamento. Os gases são tratados por filtros adequados para serem lançados no meio ambiente, enquanto que, do ponto de vista energético, a energia térmica pode ser transformada em energia elétrica e disponibilizada no sistema elétrico.

Para o caso dos resíduos de natureza orgânica, coletados pelo tipo de sistema não seletivo, como nos casos de restos de alimentos, estes podem ser submetidos a tratamentos biológicos, como nos casos de compostagem, para a degradação da matéria orgânica, liberação de nutrientes e a produção de adubos. Cabe considerar que este tipo de solução também pode ser visto com desconfianças pela sociedade, em razão das possibilidades de ocorrência ainda de organismos patogênicos. Muitas vezes eles são aproveitados como adubos em horticultura, parques e jardins, reflorestamento, ou como condicionantes de solos para a recuperação de solos esgotados, controle de erosão, proteção de encostas e taludes e em coberturas de aterros.

A última alternativa para estes resíduos sólidos é o caso dos aterros sanitários.

 Os aterros sanitários são uma evolução dos antigos lixões, a céu aberto, onde eram depositados os resíduos, sujeitos à produção de gás e de mau cheiro, além da proliferação de insetos, ratos, e de outros vetores nocivos à saúde. Além disso, eles promoviam a desvalorização das áreas onde eles eram instalados.

Do material decomposto nos lixões se origina o líquido chamado “chorume”, o qual pode ter acesso ao lençol freático; o chorume pode ainda facilitar a dissolução de outros tipos de poluentes.

Por causa disso os aterros sanitários tem sido utilizados, em substituição aos lixões. Os aterros sanitários se constituem de células diárias onde os resíduos do dia são disponibilizados, e recobertos com o solo, selados e compactados por equipamento adequado. A Figura 3 procura ilustrar um aterro sanitário.

Figura 3: Modelo de aterro sanitário

Preocupações com o projeto e o gerenciamento de um aterro sanitário incluem o volume das células, a espessura da camada selante, no sentido de não se comprometer o volume; e a impermeabilização do solo, de modo que os líquidos produzidos pelo aterro não contaminem o solo e o lençol freático, e venham por meio da percolação no escoamento subsuperficial comprometer os cursos d’água.

Outra preocupação que se tem com os aterros é com relação à formação de gases, e o seu controle, tanto para que ele não incomode com o mau cheiro, mas que ele possa também ser coletado e reaproveitado.

Bibliografia consultada

MIHELCIC, J.R; ZIMMERMAM, J.B. Engenharia Ambiental, fundamentos, Sustentabilidade e Projeto. Rio de Janeiro, 2012, LTC, 617p.

VESLIND, P. A; MORGAN, S.M. Introdução à Engenharia Ambiental, São Paulo, 2011, CENGAGE learning, 438p.

MASCARÓ, J.L. Desenho urbano e custos de urbanização. Porto Alegre, 1989, D.C. Luzzato, 175p.

PEREIRA NETO, J.T. Gerenciamento do lixo urbano aspectos técnicos e operacionais. 2007, Viçosa, UFV, 129p.

MOTA, S. Planejamento urbano e preservação ambiental, 1981, Fortaleza, UFC,