Marco Antônio de Morais Alcantara
#GerenciamentoDeResíduos #ReciclagemDeMateriais #ManejoDoMeioFísico
Qual é o contexto dessa geração dos resíduos sólidos, e de onde
eles vem?
Pode-se considerar que a sociedade atual é marcada pela crescente
utilização de materiais sintéticos, necessários para viabilizar
os produtos utilizados no dia a dia, tais como, os para conter os
nossos alimentos, assim como os produtos de higiene e de limpeza, e
assim temos: papéis, plásticos de diversas origens, vidros
descartáveis, não desconsiderando ainda os materiais inservíveis
tais como metais de equipamentos não mais operantes, produtos
eletrônicos, e outros de composição diversa, podendo conter
derivados desses materiais típicos.
Dentro deste contingente chamado de “resíduo sólido”, pode-se
ainda considerar os materiais orgânicos, como os restos de
alimentos, as podas das árvores, e os materiais derivados dos cortes
de grama e de manejo de jardins.
Um material também sujeito a ser enquadrado neste montante é o
produto resultante das estações de tratamento de esgoto, o lodo
procedente de tanques de sedimentação, e que não foram submetidos
ainda aos processos de digestão anaeróbia com a produção de gás
e desaguamento.
O problema do gerenciamento dos resíduos sólidos é crescente com o
desenvolvimento da humanidade, mais notadamente após o período da
revolução industrial, mediante a elaboração de novos produtos,
com maior complexidade, do aumento da população, bem como do
consumismo em que a sociedade passou a viver. Complexidades surgem
mediante as características dos produtos e as soluções que devem
ser dadas para a destinação final.
O ciclo de vida ou de dos produtos também se alterou nos últimos
anos, de modo a se ter um grande contingente de produtos inutilizados
que se acumulam, requerendo lugar para descarte, assim como, a
extração de produtos naturais se tornou também crescente frente ao
aumento da população e da demanda por aquisição ou substituição
de produtos.
Ações e posturas da sociedade
Ao se decidir sobre a destinação dos materiais, deve-se atentar
para a peculiaridade destes; pois, as características dos resíduos
sólidos são bastante diferenciadas, e mesmo entre os resíduos de
um mesmo tipo, como no caso dos plásticos, com diferentes
formulações; e, do mesmo modo, entre os metais. Dentre estas
características podem haver aquelas que ditam o comportamento ou as
reações diante das ações de um tratamento, assim como, o possível
valor agregado para os casos de reutilização ou de reciclagem; e
ainda, o potencial de dano a saúde pública por contaminação e de
polarização de vetores transmissores de doenças.
A postura que se dará aos resíduos sólidos dependerá
essencialmente do desenvolvimento social e econômico de uma
sociedade.
O gerenciamento dos resíduos sólidos é necessário em decorrência
das seguintes questões:
-Da proteção da saúde pública e do meio ambiente;
-em contribuir para a estética e eliminar a poluição visual;
-em aproveitar o potencial de reutilização ou de reciclagem, de
modo a se diminuir a quantidade de materiais insumos apropriados do
meio físico.
A visão atual sobre o que se trata o lixo tem sido modificada nos
últimos anos. Segundo Pereira Neto (2007), o conceito sobre o lixo
de que el seja “matéria sólida, que não é mais útil ou
funcional” já não representa mais a sua compreensão, sendo hoje
o conceito de lixo de que este é uma “massa sólida de resíduos
sólidos resultante das atividades humanas, que podem ser reciclados
ou parcialmente utilizados, gerando, entre outros benefícios,
proteção á saúde pública e economia de energia e de recursos
naturais”.
No caso da construção civil, por exemplo, blocos de concretos e de
cerâmica podem ser transformados em insumos básicos como a areia e
o agregado artificial para a produção de concretos e de argamassas.
De acordo com Mihelcic e Zimmerman (2011), o ecossistema da sociedade
deve potencialmente se adequar ao que ocorre normalmente na natureza,
onde tudo o que é gerado tende a ser consumido ou transferido para
subsistemas de recuperação natural.
A Figura 1 procura apresentar uma visão geral deste possível
ecossistema, com respeito à utilização e à destinação dos
materiais.
Figura 1: Possíveis aproveitamentos dos resíduos
A taxa de materiais acumulados deve ser igual à taxa de materiais de
entrada menos a taxa de materiais de saída, somados a taxa de
materiais produzidos menos a taxa de materiais consumidos.
As ações que são normalmente tomadas operacionalmente diante do
problema do gerenciamento dos sólidos urbanos são basicamente três:
(i) coleta e transporte de resíduos das residências ou pontes de
geração até o local de processamento; (ii) possível recuperação
total ou parcial das partes úteis do resíduo, com os objetivos de
recuperação ou reciclagem, e o (iii) processamento ou o descarte
para o meio físico.
As características do lixo urbano
O lixo urbano pode ter diversos tipos de locais de procedência, e
isto fará com que o seu conteúdo ou as propriedades destes possam
variar. Por exemplo existe o lixo domiciliar, o lixo comercial, o
lixo público e o lixo de fontes especiais.
As características do lixo são marcadas principalmente como:
umidade, sendo atribuída da ordem de 1% para o lixo comum orgânico;
peso específico, o qual pode variar conforme a procedência deste e
dos materiais que foram manipulados em processamentos, tais como
plásticos, metais, borracha e outros; concentração de nutrientes,
tais como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e
outros; relações entre as concentrações de carbono e de
nitrogênio, que estão associadas à biodegradabilidade do mesmo;
concentração de metais pesados, como o ferro, cadmio, alumínio,
zinco, cobre e mercúrio, entre outros, e que indicam contaminação;
poder calorífico, que indica o potencial para o aproveitamento
energético.
Ainda não se pode descartar como características a presença de
material contaminante de origem orgânica.
Os lixos residenciais, por exemplo, podem conter a predominância em
matéria orgânica, e conter ainda papéis, plásticos, e outros,
enquanto que o lixo comercial pode ter uma aproximação com este; já
o lixo hospitalar pode conter resíduos bastante diferenciados dos
lixos residenciais e comerciais, e o lixo industrial pode conter
contaminantes de origem química.
Fatores de viabilidade das ações sobre o gerenciamento dos
resíduos sólidos
Os procedimentos para com os resíduos sólidos dependerá
fundamentalmente da compreensão de uma sociedade acerca deles, em
sua essência, e da importância do controle sobre estes de modo a se
promover o seu aproveitamento, dentro do seu correto manejo, ou o seu
correto descarte, coerente com a proteção da saúde e da natureza.
Dependerá ainda dos recursos financeiros e de ordem pública, para
gerir equipamentos, e do corpo técnico capacitado para a atuação
sobre os processos que vão incidir sobre estes resíduos. Aos
resíduos sólidos também se pode agregar valor, como na forma de
bens, de produção de gás e de energia. O valor financeiro que o
mercado incorpora aos resíduos, assim como os aspectos de
custo/benefício, trazem complexidades sobre as decisões dos
processos de tratamento ou de transformação.
A primeira etapa do tratamento é a coleta do material, a partir do
local de geração. Este processo pode demandar duas coisas: um deles
é a identificação do resíduo pelo gerador, usuário, ou se é
identificado por especialistas. Mesmo entre materiais de mesma
natureza pode haver diferentes formulações, de modo que o usuário
simplesmente, muitas vezes, não é capaz de fazer a distinção,
sobretudo com relação àqueles que, se incinerados, poderão
favorecer a formação de gases nocivos à saúde ou ao ambiente. Por
causa disso, muitas vezes os procedimentos finais de separação tem
sido realizados na central de processamento, com pessoal
especializado, e com a inclusão de etiquetas aos produtos
específicos. Este caso inclui por exemplo os plásticos.
Processos físicos podem ser utilizados para a separação dos
materiais, como no caso dos metais, com o auxílio de ímãs.
Quanto ao transporte, ele pode ser feito de maneiras diversas, como
no caso em que o usuário leva o material até um local designado por
“ecoponto”, ou então, o material pode ser coletado por meio de
um sistema público de coleta, por caminhões apropriados, contidos
os materiais em coletores plásticos que podem ser basculados para o
interior dos caminhões.
Um aspecto importante para o processo de coleta e transporte é o da
logística, de modo a poder reduzir custos que podem variar em função
do trajeto estabelecido.
A Figura 2 apresenta um diagrama das fases de coleta, armazenamento e
processamento dos resíduos.
Figura 2: Processo de coleta, avaliação e destinação dos resíduos
Sobre a natureza dos materiais e das viabilidades técnicas e
econômicas, o aproveitamento dos resíduos sólidos, estará sujeito
a alguns requisitos e contingências do mercado.
Os plásticos e ou metais são avaliados quanto às possibilidades de
reutilização ou de reciclagem. Alguns dos produtos são compostos
por ambos, e podem ser decompostos por fases diferenciadas, de modo
que se proceda o reaproveitamento daquilo que for adequado. Não deve
deixar de se observar também que, algum resíduo sólido pode estar
contaminado com alguma coisa nociva à saúde.
O incentivo da reciclagem depende, entretanto, das condições de
mercado, de modo a haver coletores para os casos tais como o dos
metais, os plásticos e papéis. Infelizmente, as empresas que
produzem materiais de consumo dispõem de antemão de um
planejamento, o qual inclui tanto o consumo médio de seus produtos
como a demanda de insumos para a fabricação destes produtos. Neste
sentido, a aquisição de insumos “alternativos”, procedente da
coleta de resíduos, pode variar de acordo com a demanda dos
produtos, a qual pode variar, e da valorização dos resíduos como
insumos.
Quanto à viabilidade econômica dos resíduos e a formação de uma
classe coletora e intermediária entre a sociedade e as empresas,
considera-se que a rentabilidade em si não é a mais atrativa, fato
que grande parte da população envolvida com a coleta é aquela
dependente economicamente. Contudo, conforme Pereira Neta (2007) o
maior lucro da reciclagem está na preservação das condições de
saúde da população e da natureza, poupando-a de mais intervenções,
além de permitir a organização social em torno de
reaproveitamento, e retirar pessoas catadoras dos lixões urbanos.
Alguns resíduos que são reprovados para a utilização como
reciclados podem ser aproveitados para uma outra finalidade, a
produção de energia. Para isso, se procede a incineração, com a
produção de gases, os quais são resfriados mediante o contato com
condutores de água de resfriamento. Os gases são tratados por
filtros adequados para serem lançados no meio ambiente, enquanto
que, do ponto de vista energético, a energia térmica pode ser
transformada em energia elétrica e disponibilizada no sistema
elétrico.
Para o caso dos resíduos de natureza orgânica, coletados pelo tipo
de sistema não seletivo, como nos casos de restos de alimentos,
estes podem ser submetidos a tratamentos biológicos, como nos casos
de compostagem, para a degradação da matéria orgânica, liberação
de nutrientes e a produção de adubos. Cabe considerar que este tipo
de solução também pode ser visto com desconfianças pela
sociedade, em razão das possibilidades de ocorrência ainda de
organismos patogênicos. Muitas vezes eles são aproveitados como
adubos em horticultura, parques e jardins, reflorestamento, ou como
condicionantes de solos para a recuperação de solos esgotados,
controle de erosão, proteção de encostas e taludes e em coberturas
de aterros.
A última alternativa para estes resíduos sólidos é o caso dos
aterros sanitários.
Os aterros sanitários são uma evolução dos antigos lixões, a céu
aberto, onde eram depositados os resíduos, sujeitos à produção de
gás e de mau cheiro, além da proliferação de insetos, ratos, e de
outros vetores nocivos à saúde. Além disso, eles promoviam a
desvalorização das áreas onde eles eram instalados.
Do material decomposto nos lixões se origina o líquido chamado
“chorume”, o qual pode ter acesso ao lençol freático; o chorume
pode ainda facilitar a dissolução de outros tipos de poluentes.
Por causa disso os aterros sanitários tem sido utilizados, em
substituição aos lixões. Os aterros sanitários se constituem de
células diárias onde os resíduos do dia são disponibilizados, e
recobertos com o solo, selados e compactados por equipamento
adequado. A Figura 3 procura ilustrar um aterro sanitário.
Figura 3: Modelo de aterro sanitário
Preocupações com o projeto e o gerenciamento de um aterro sanitário
incluem o volume das células, a espessura da camada selante, no
sentido de não se comprometer o volume; e a impermeabilização do
solo, de modo que os líquidos produzidos pelo aterro não contaminem
o solo e o lençol freático, e venham por meio da percolação no
escoamento subsuperficial comprometer os cursos d’água.
Outra preocupação que se tem com os aterros é com relação à
formação de gases, e o seu controle, tanto para que ele não
incomode com o mau cheiro, mas que ele possa também ser coletado e
reaproveitado.
Bibliografia consultada
MIHELCIC,
J.R; ZIMMERMAM, J.B. Engenharia Ambiental, fundamentos,
Sustentabilidade e Projeto.
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VESLIND,
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J.L. Desenho urbano e custos de urbanização. Porto Alegre,
1989, D.C. Luzzato, 175p.
PEREIRA NETO, J.T. Gerenciamento do lixo urbano aspectos técnicos
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MOTA, S. Planejamento urbano e preservação ambiental, 1981,
Fortaleza, UFC,