Marco Antônio de Morais Alcantara
#ApropriaçãoDoEspaço #UtilizaçãoDoEspaçoConstruído
Este texto tem por fim discutir o papel das populações sobre a maneira de intervir no espaço urbano, assim como, destas compreenderem as propostas que lhe são implantadas. Alguns princípios tendem a ser universais, e consagrados, como as formas de se intervir na sociedade, e de construir. Todavia, as populações têm um papel ativo muito importante neste processo de apropriação do ambiente construído, refletindo, algumas vezes, qual é a sua maneira de ocupar e de intervir no espaço, dentro de um papel característico, conforme o seu contexto de vida e de relação com a sociedade e do entorno.
A construção do ambiente construído
Rodrigues (1984), chama atenção para as pessoas que tem a mesma visão da vida, diferenciando grupos de pessoas que terão a mesma maneira de reagir, e conferir a atribuição de valores às coisas.
Fadigas (2010) considera que as
cidades são o resultado da evolução social e cultural das pessoas, e que, ao longo do tempo
lhes moldaram as tipologias, os modelos, e o funcionamento, mantendo, conforme o
autor, em muitos casos, as malhas urbanas de épocas anteriores, e a continuidade
cultural e espacial, de sucessivas gerações de habitantes e de suas
atividades. Considera o autor que a sua
evolução no tempo é um processo dinâmico e interativo, semelhante ao dos
processos naturais; as paisagens resultantes são, por isso, marcadas pela ação
do homem e pela reação do meio.
Deste modo, a urbanização espelha, nas formas que assume, e nos ritmos que faz, um processo histórico traduzido em
diferentes formas, tomadas as relações entre as comunidades humanas e o meio onde vivem,
assim como, a maneira pela qual dele se apropriam. Conclui então o autor, que a transformação territorial associada a este
fenômeno, resulta na criação de habitats diferenciados quanto à forma, a
densidade de ocupação, a intensidade do uso do solo, e dos recursos naturais, implicando na organização de redes de suporte ao seu funcionamento, e à sua
sustentabilidade.
Lynch(2011) considera que a imagem de uma cidade é importante para o usuário, de modo que este possa interagir com ela, dentro de uma ideia de relações de sobrevivência. Isto, sem dúvida, influencia na maneira pela qual o indivíduo pode conceber o espaço construído, e identificar uma relação com este espaço.
Desenvolvimento sustentável
De acordo com Amado (2009), a
utilização alargada do conceito “desenvolvimento sustentável” se deu a partir
de duas conferências da ONU, sobre ambiente e o desenvolvimento, nas quais foi
reconhecida a necessidade de estratégias a serem adotadas, em face do crescente
índice de urbanização, e dos riscos de desertificação de algumas áreas. De modo
geral são sustentáveis:
-O que vai ao encontro de
necessidades de gerações presentes, sem comprometer a capacidade de
desenvolvimento próprio das gerações futuras.
-Pode ser visto como conjunto de
programas de desenvolvimento, que vão ao encontro dos objetivos e satisfação das
necessidades humanas, sem violar a capacidade de regeneração dos recursos
naturais, a longo prazo, nem os padrões de qualidade ambiental e de equidade
social.
-Deve reconhecer fatores sociais
e ecológicos, assim como fatores econômicos, da base de recursos vivos e não
vivos, e das vantagens e desvantagens das ações alternativas, tanto a curto como
a longo prazo.
-É compreendido como uma forma de
mudança social, que se acrescenta aos tradicionais objetivos de desenvolvimento,
o objetivo de sustentabilidade ecológica.
A apropriação do espaço construído
O urbanismo ocidental tem sido em grande parte influenciado pelas ideias propostas por Le Corbusier, as quais valorizam espaços individuais privados, e espaços de uso compartilhado, como parques, espaços de vivência e recreação, e áreas de serviços condominiais. Neste sentido, o perfil do usuário passa a receber grande importância, de modo a se evitar disfunções urbanas na fase de pós-ocupação em loteamentos.
De acordo com Lacaze(1995), importa que o usuário adote como é o seu espaço planejado. Como exemplo, o autor aponta para os casos dos modelos construídos segundo Le Corbusier, o qual foi bom para as cidades de Marselha e de Rezé, sendo o mesmo rejeitado em Briey e em Fiminy. Não depende somente da natureza do modelo, mas também da maneira como os ocupantes o fazem seu.
Considera então o autor que, estes exemplos, contém ensinamentos importantes que devem ter em mente quando se tem por objetivos intervir no meio urbano. Primeiro: o processo de apropriação pelos moradores constitui um processo decisivo. Quando existe a apropriação do espaço, a população estabelece relações com aquele espaço, no sentido de incorpora-lo para o seu espaço de vivência, e de suas atividades importantes, para o cotidiano.
Ressalta o autor que a apropriação do espaço não pode ser feita “por decreto”, mas depende da interação da população com aquele espaço, e esta nele intervir. Finalmente, quem pode garantir o sucesso de um empreendimento não é, na verdade, um crítico de passagem, ainda que especialista, mas o utilizador, o qual poderá validar.
Bibliografia
AMADO, M.P. Planejamento urbano sustentável. Casal de Cambra-Pt, Caledoscópio, 2009, 254 p.
FADIGAS, L. Urbanismo e natureza-os desafios. Lisboa, Edições Sílabo, 2010, 1149 p.
LACAZE, J.P.
A cidade e o urbanismo. Lisboa,
Piaget, 1995, 141p.
LE CORBOUSIER. Planejamento
Urbano. São Paulo,
1971, Perspectiva, 203 p.
LYNCH, K. A imagem da cidade. Lisboa, 2011, Edições 70, 198 p.
RODRIGUES, F.M. Desenho urbano, cabeça, campo e prancheta. São Paulo,
1986, 116 p.
Sobre o autor:Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.
Sobre o autor:Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.