Marco Antônio de Morais Alcantara
#PensamentoUrbano #EvoluçãoUrbana
Esta postagem tem por finalidade falar sobre como o conceito de cidades evoluiu, sobretudo com base em alguns dos fatores considerados como importantes, tais como:
- A organização social e política;
- as relações de produção e de mais valia;
- as condições de sustentabilidade do ponto de vista de crescimento e de custeio urbano;
- as condições funcionais de uma cidade e;
- o pensamento ecológico e de bem estar.
Serão tomados alguns exemplos de sociedades e de comunidades urbanas, dentro de uma ordem cronológica bastante ampla. Serão destacados alguns fatores que podem influenciar na formatação urbana, de uma maneira simplista, como se estes fatores tivessem uma relação com a ordem cronológica, fato que talvez não pode ser uma regra para todas as coisas.
- A organização social e política;
- as relações de produção e de mais valia;
- as condições de sustentabilidade do ponto de vista de crescimento e de custeio urbano;
- as condições funcionais de uma cidade e;
- o pensamento ecológico e de bem estar.
Serão tomados alguns exemplos de sociedades e de comunidades urbanas, dentro de uma ordem cronológica bastante ampla. Serão destacados alguns fatores que podem influenciar na formatação urbana, de uma maneira simplista, como se estes fatores tivessem uma relação com a ordem cronológica, fato que talvez não pode ser uma regra para todas as coisas.
A cidade antiga
Como cidade antiga, dentro dos propósitos deste texto, pode-se englobar a cidade inserida em uma larga extensão no tempo, e de modo a se compreender alguns tópicos de interesse.
O contexto e as características da cidade antiga
De modo geral, as cidades antigas inseridas neste texto possuem em comum as seguintes características:
- Cidade, reino e estado se confundem;
- povo
e cultura são bem precisos;
Infraestrutura urbana e construções urbanas presentes na cidade antiga
Fazendo uma abstração, imaginando uma cidade antiga, pode-se nela encontrar os seguintes tipos de construções:
- Espaços
culturais e de cultos;
- jardins
e palácios;
- habitações de nobres ou de pessoas ilustres;
- aglomerado de habitações populares;
- vias
urbanas estreitas;
- aquedutos
e obras hidráulicas;
- muros
de proteção.
Organização social e elementos sociais ativos na cidade antiga
Na cidade antiga nota-se a presença
de nobres, plebeus, escravos, sacerdotes e governantes. Dificilmente poderia ocorrer algum tipo de mobilidade social, de modo que, quem nascia plebeu haveria de permanecer nesta condição por toda a sua vida, assim como, os seus descendentes. A maior parte do trabalho era realizada por mão de obra escrava. HUNT & SHERMAN (1990) apontam que 80% de todo o
trabalho social era realizado por mão de obra escrava, tanto na atividade de
subsistência como que em trabalhos artísticos e burocráticos. Os autores
consideram que, segundo a ideologia presente o trabalho escravo era
justificado, e tido como eterno, tanto por filósofos como Aristóteles e Platão.
Os autores consideram ainda que, o trabalho escravo trouxe um demérito para com
o trabalho e o espírito inventivo, limitando então o progresso tecnológico e
promovendo a estagnação da economia. Isto tornou o reino de Roma vulnerável ao
ataque dos bárbaros.
Desenvolvimento humano investido na cidade antiga
Havia a ausência
de um plano estratégico para o desenvolvimento humano das populações menos
nobres, enquanto que os nobres eram instruídos por sábios. O sistema
produtivo era voltado para a subsistência do povo e para o conforto dos nobres e dos sacerdotes.
Desenvolvimento auto-sustentado na cidade antiga
Havia a dependência
de fatores naturais para a instalação de uma povoado, e de vulnerabilidade à estes
fatores, assim como de eventos catastróficos da natureza. A justificativa de um núcleo estava em função das condições naturais de implantação. Por exemplo, CAU (1987) considera as condições particulares de
fertilidade proporcionadas pelo ajuste do curso do rio Garonne, Como causa para
o estabelecimento do núcleo e civilização primitivos de Toulouse-Fr.
O crescimento
da riqueza local se dava às custas da espoliação de outro núcleo urbano. A
cidade antiga coincidia com o próprio reino. A
‘cidade-reino’ poderia conquistar e espoliar outra, ou ser incorporada para
servir.
Funções urbanas criadas na cidade antiga
Os
espaços urbanos eram atribuídos em função da natureza da ocupação, mas de modo
de excluir nobres e plebeus. A infraestrutura urbana criada era basicamente para suprir as casas dos nobres, e para permitir a acessibilidade destes. Os muros tinham a função de proteção.
Cidade de Toulouse antiga e os muros de proteção
Fonte: CAU (1987)
Prestação de serviços públicos na cidade antiga
Havia antes
o imposto que um plano social de distribuição de recursos. Os nobres e senhores tinham como função cuidar do bem estar de seus serviçais.
Demanda pelo solo urbano na cidade antiga
O uso
do solo urbano era arbitrado pelo poder dominante.
Resumo das cidades antigas
- Tinham
a sua existência e justificativa na existência e estabilidade de um povo;
- tinham uma estrutura social engessada;
- tinham maior vulnerabilidade aos fatores naturais;
- tinham comportamento estático do ponto de vista da presença de elementos ativos e da evolução urbana.
A cidade da revolução industrial
As cidade da revolução industrial consideradas neste texto são àquelas inseridas no tempo durante o período do mercantilismo e da revolução industrial, e que tiveram a sua existência ou expansão em decorrência do reflexo da atividade comercial, artesanal e industrial .
O contexto e as características das cidades da revolução industrial
Estas tiveram ocorrências
pontuais em decorrência das atividades da manufatura e do comércio, quando no pós-desmantelamento do sistema feudal, e os estados nacionais estavam em fase de
formação.
Os povos e estados estão em fase de uma nova reconfiguração, e formação de identidade.
Os povos e estados estão em fase de uma nova reconfiguração, e formação de identidade.
As cidades são voltadas para a produção e ao acúmulo de
riquezas, privilegiando classes diferentes.
Infraestrutura urbana e construções urbanas presentes nas cidades da revolução industrial
Havia a ênfase
na presença de fabricas e na precariedade de habitações. Não havia uma disposição racional para esta configuração.
A cidade da revolução industrial
Fonte: MAUSBACH (1981)
Organização social e elementos sociais ativos cidade da revolução industrial
Se antes havia a supremacia da nobreza e do clero, sobre os plebeus, nesta fase toma destaque a figura do burguês, que estava fora dos estamentos sociais, este têm
ascensão dentro da nova ordem econômica e produtiva, e política.
O trabalho remunerado passa à existir como nova opção de sobrevivência.
Os regimes de servidão e escravatura são substituídos pelo trabalho remunerado, que passa à exigir legislação.
O trabalho remunerado passa à existir como nova opção de sobrevivência.
Os regimes de servidão e escravatura são substituídos pelo trabalho remunerado, que passa à exigir legislação.
Desenvolvimento humano investido nas cidades da revolução industrial
Começaram a surgir pressões para os programas de alfabetização, reivindicados pela
reforma protestante. A
competência para trabalhos práticos passa a ser requisitada, exigindo-se
programas de formação técnica. O indivíduo passa a ser reconhecido pelo ofício que ele desempenhava dentro desta nova conjuntura produtiva, e não pelo vínculo que ele tinha para quem ele servia. O conhecimento científico, a investigação, e a filosofia passaram a ganhar liberdade, assim como as artes, passaram a ser incentivadas dentro das famílias tradicionais.
O desenvolvimento da ciência e da filosofia Fonte: PAYER e CHAPERON (1991)
O desenvolvimento das artes nas famílias burguesas
Fonte: PAYER e CHAPERON (1991)
O conhecimento acadêmico que antes era restrito aos nobres e aos sacerdotes passaram então a ser de acesso a cidadãos então "comuns", para a época, havendo, da parte das famílias burguesas um grande interesse pela aquisição da cultura e ao acesso ás artes.
Desenvolvimento auto-sustentado cidade da revolução industrial
Nesta fase surge
a noção de mais valia (lucro). Paralelamente, passou-se pela revolução agrária, mas passou-se a ter maior domínio sobre os fatores da natureza. No
lugar do despojo, toma-se lugar o acúmulo do produto acumulado da mais valia, o
qual passou a ser incorporado por algumas famílias que prosperavam e que faziam
investimentos em construções, ferrovias, e fábricas. A
cidade passou a ser justificada pela existência de uma economia.
Funções urbanas criadas cidade da revolução industrial
Nesta fase havia ainda pouco
desenvolvimento em termos das funções urbanas. Os arquitetos da época eram capacitados preferencialmente para atuar sobre a edificação e fachadas, mas era novo para a época o sistema criado por um aglomerado de edificações, dentro da então conjuntura, assim como a necessidade de solução para problemas de planejamento de vias e redes, necessárias para a funcionalidade urbana. Havia a convivência de uma cidade industrial e
dormitório ao mesmo tempo. As densidades habitacionais eram bastante elevadas. Havia carência de sistemas de saneamento.
Paisagem urbana de uma cidade da revolução industrial a nível de rua
Fonte: DUÈ (1998)
Prestação de serviços cidade da revolução industrial
Os sistemas de saneamento são precários. Os
serviços de saúde pública têm a sua concepção em razão dos riscos de epidemia
em super-populações. Se antes, uma epidemia no campo afetaria possivelmente uma população local, distante do palácio, agora, uma epidemia de gripe poderia ter como impacto não só os serviçais, mas também os chefes e supervisores de produção, e afetaria o ganho do capital. Surgem os serviços de saúde pública ( CLARCK,1988).
Demanda pelo solo urbano cidade da revolução industrial
O espaço urbano era marcado por grandes concentrações de habitações e de população. Grandes migrações do campo para a cidade existiam na época, cujos habitantes, que venderiam a sua mão de obra, deveriam morar em condições precárias como já citado.
Resumo das cidades mercantilistas e industriais
- A
força e o poder estão na dependência do acúmulo da mais valia e na capacidade
de investimento de seus patrocinadores;
- o engessamento social é rompido e os extratos sociais são ativos;
- a cidade surge como um centro de oportunidades, e ascensão social;
- a cidade adquire comportamento consumista.
A cidade pós revolução industrial
O contexto e as características da cidade pós-industrial
No caso a industrialização já é um fato. As sociedades se voltam para o sistema produtivo
para alimentar macro economias, assim como o indivíduo passa a ter um papel importante na funcionalidade do sistema.
Infraestrutura urbana e construções urbanas presentes na cidade pós-industrial
No caso das cidades pós-revolução industrial pode-se distinguir claramente:
-Habitações;
- instalações industriais;
- áreas comerciais;
- obras de saneamento;
- vias urbanas com diferentes hierarquias e classificações;
- praças e espaços públicos de convivência.
Organização social e elementos sociais ativos da cidade pós-industrial
A
divisão social do trabalho já está bem definida nesta altura. Não se deve
existir ‘castas’.
O desenvolvimento humano é investido de modo a poder qualificar profissionais específicos;
o indivíduo é instruído e qualificado para o trabalho por universidades ou
escolas técnicas.
Desenvolvimento auto-sustentado na cidade pós-industrial
A
cidade é sustentada pela riqueza gerada nela mesma, e está sujeita também à uma
economia planificada. A
riqueza gerada na cidade não é obrigatoriamente originada da indústria ou da
agricultura, podendo ser advinda também do comércio ou da prestação de
serviços. Os
serviços prestados são tarifados, não havendo mais favores.
Funções urbanas criadas na cidade pós-industrial
As funções urbanas passam a ser mais requisitadas. Neste sentido surgem algumas reivindicações e propostas urbanas:
- A divisão de cidades em zonas específicas como de trabalho, lazer, residencial, e industrial.
- As zonas residenciais deveriam ser envolvidas por áreas verdes.
- A densidade urbana deveria ser diminuída, com a construção de superfícies livres e com a utilização de edifícios de múltiplos andares.
- Conciliação entre as vias para automóveis e as vias de ciclistas e pedestres.
- Solução para os problemas de vias e de estacionamento.
Modelo de cidade conforme Le Corbusier. Fonte: LE CORBUSIER (1971)
Prestação de serviços na cidade pós-industrial
Na
cidade pós-industrial o usuário deve ter acesso aos serviços públicos, como o
do ensino, creches, abastecimento, saneamento, eletricidade, coleta de lixo
e outros. Estes são tarifados.
Demanda pelo solo urbano na cidade pós-industrial
O
solo urbano passa a ser mais competitivo na economia pós-industrial, em função
dos diversos interesses.
Resumo das cidades pós-industriais
- As
economias urbanas são menos independentes;
- as
funções urbanas são perfeitamente definidas;
- o usuário é mais exigente com a qualidade de vida;
- o usuário é mais dependente dos serviços urbanos;
- o usuário é mais ecológico.
O atual momento
Tendo visto uma cronologia dos eventos que influenciaram a concepção das cidades, uma questão pode ser levantada para os dias atuais: o que estaria hoje contribuindo para o pensamento urbano dos nossos dias?
Talvez podemos levantar algumas questões como:
-A mobilidade urbana, em termos de atendimento à grandes distâncias e também quanto ao caráter da energia requerida;
-as densidades habitacionais quando se considera a verticalização;
-o gerenciamento dos resíduos, fato que desde o início da revolução industrial vem se tornando complexo, tanto pelo aumento do consumo como pela diversificação de produtos e dos corpos receptores;
-a exclusão urbana, em decorrência dos déficits habitacionais, da necessidade de mobilidade por parte dos deficientes físicos, da acessibilidade, e do custo de vida urbano;
-o gerenciamento dos serviços urbanos e a concepção da atual estatal e privada.
Como se vê, a história ainda não acabou.
Bibliografia
CAU
Christian Petite histoire de Toulouse .
Toulouse , 1987,
Loubatieres, 79 pg.
CLARCK David. Introdução à Geografia Urbana.
São Paulo, 1985, Difel, 286 pg.
DUÈ Andréa La vie des hommes à travers les
révolutions industrielles. Paris, Delagrave, 1998, 45 pg.
HUNT E.K;
SHERMAN . H.J. Economics:
An introduction to traditional and radical views. New York , 1990, Harper and Row, Publishers,
Inc.
LE
CORBUSIER. Planejamento Urbano. São
Paulo , 1971, Perspectiva, 203p.
MAUSBACH Hans. Urbanismo contemporâneo.
Lisboa, Presença, 1981.
PAYER,
J, M; CHAPÉRON, S. Le siècle des lumières. Casternan,
Paris, 1991. 69p.
*Marco Antônio de Morais Alcantara
é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com
ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de
concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master
Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences
Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures,
pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela
Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.