A periferia urbana tem sofrido algumas transformações nos últimos anos, sobretudo em termos de valorização, devido ao ar puro, aos lotes maiores, à fuga da cidade, à ausência de ruídos, e a autonomia. As áreas rurais periurbanas tem sido “assediadas” pelo capital imobiliário, e ameaçadas. O indivíduo do meio rural muitas vezes tem sido aquele que habita e produz no meio rural, e que utiliza do espaço urbano para a venda e o escoamento dos seus produtos. Neste sentido se forma um binômio campo-cidade. No contexto atual, de difícil abstenção de se interagir com o meio urbano, o homem rural necessita também de alguns dos serviços oferecidos pelo município, de modo que este venha a gozar de plenitude de vida, e suprir suas necessidades; dentre estes serviços se encontram os ligados às questões sanitárias, de saúde, de habitação, de educação e de infraestrutura básica. A Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, por meio do curso de Engenharia Civil, desenvolveu um projeto de extensão universitária para levar alguns princípios à população habitante em uma área denominada por área de “rocinhas” em Ilha solteira, em especial no que tange à transferência de tecnologia.
Atividades realizadas
Do ponto de partida do projeto
Primeiramente foram realizados alguns
estudos e reuniões com os discentes, onde se procurou discutir alguns temas
sobre o contexto e as contingências do morador em áreas rurais e em
assentamentos.
Considera-se que um projeto de
extensão universitária vai além de uma mera prestação de serviços, mas sim a transmissão
de conhecimentos e de formação que venham a melhorar o contexto de uma
população.
Procurou-se inicialmente então discutir,
dentro do escopo da sociologia rural, o que tange ao modo de organização do
trabalho, e das relações destes habitantes do meio rural com o meio urbano,
sendo este um processo interativo; também, considerou-se as contingências deste
extrato da população em termos da valorização de sua cultura, e também do seu
potencial como protagonista, dentro dos assuntos técnicos de organização,
relativos às suas realidades de vida.
Logo, percebeu-se conforme
Martins (2001), uma nova visão de paradigmas, onde, o papel do projeto,
inicialmente previsto como um repasse de conhecimentos e de assistência técnica,
visto em um sentido “assistencial”, teria uma mudança, no sentido também de que,
agora se considera também a contrapartida dos ruralistas, em termos de se
compreender as suas visões de vida, e dos seus modos de sobrevivência, no
sentido de também se pudesse aprimorar possíveis técnicas por eles
desenvolvidas.
O intuito das primeiras reuniões era
no sentido de apresentar aos alunos um quadro do contexto onde eles deveriam desenvolver,
para promover neles a motivação e um pensamento unânime.
Da sistemática realizada
Para atender o que de antemão
havia sido proposto no plano, foram realizadas algumas reuniões com o intuito
de se discutir as ações que poderiam ser implementadas no projeto.
Logo, foram levantadas questões
sobre a situação fundiária dos moradores da área, em especial nos lotes que
seriam visitados, para se trabalhar dentro de uma realidade que pudesse estar
em coerência com os mapas oficiais.
Por meio de imagens
disponibilizadas, foram vistas as características da área frente ao meio
urbano, procurou-se, através de cartas oficiais, a delimitação do perímetro
urbano, e constatou-se que a área era legalmente reconhecida como uma área periurbana.
Também foram levantadas questões
do modo efetivo de vida da população do projeto, em termos de serem
fundamentados em hábitos de modo rural ou urbano, bem como, a ligação e a
conexão da área com o meio urbano em termos de vias de acesso, e ainda, dos
serviços públicos urbanos oferecidos à área.
Buscou-se mapas da região junto
aos setores competentes da prefeitura, e do ITESP, com respeito à questão
fundiária dos lotes.
Foi encontrado um consenso no
sentido de se interrogar à população, em termos de algumas questões tais como:
origem, ocupação, uso do solo, instalações produtivas, condições sanitárias e
acomodação.
Visita de reconhecimento na área
Realizou-se uma visita técnica
exploratória na área, identificando-se as condições de infraestrutura, de paisagem,
dos lotes ocupados, dos lotes ociosos, e os conflitos presentes na ocupação da
área, como o verificado pela proximidade de algumas casas com o linhão de
energia, procedente da Usina Hidroelétrica de Ilha solteira.
Foi também constatado tanto o
caráter rural relativo ao modo de vida da população, com relação simbiótica com
o meio urbano.
Ações pós reconhecimento da área
Foi realizada posteriormente uma
outra visita técnica, com a abordagem dos moradores.
Desta visita técnica foram
observadas as condições com relação às instalações rurais e produtivas, assim
como com as condições de habitação e de vivência.
Na busca de temas técnicos,
decidiu-se adotar o “solo-cimento autoadensável”, desenvolvido na FEIS UNESP,
como um tema de transferência de tecnologia; este é apresentado em Berté e
Alcantara (2014); trata-se de um material que permite a autonomia do usuário
produtor, em acordo com os moradores e exploradores da área rural, e que
dispensa grandes equipamentos, além de um misturador.
O solo-cimento também é um
material excelente nos desempenhos térmico e acústicos, adequado para
habitações e instalações rurais, de encontro ao caráter de conforto ambiental.
Os problemas de conforto térmico
são relevantes na região de Ilha Solteira, assim como, os solos locais da área
de estudo se mostravam favoráveis ao uso para a produção do solo-cimento
autoadensáveis.
Do estudo tecnológico
Foram selecionadas algumas das amostras
de solo-cimento autoadensável que se encontravam acondicionadas na câmara úmida
do laboratório de materiais, do Departamento de Engenharia Civil, as quais
estavam em cura após um período de aproximadamente até 10 anos, acondicionadas em
embalagem plástica.
Este material foi destinado à
realização de ensaios mecânicos para a verificação dos valores de resistência
mecânica, verificando as condições de resistência mecânica, e de poder inferir
sobre a durabilidade destes.
Realizou-se os ensaios dos corpos
de prova de solo-cimento autoadesável, os quais indicaram um desempenho
mecânico situado entre 3, 4 e 5 MPa, conforme a dosagem e a presença de adições
minerais coadjuvantes. Estes resultados se encontraram coerentes com os valores
anteriormente encontrado em Bermudez e Alcantara (2014) e Claverie e Alcantara.
Ainda, foram elaborados por cada
aluno os relatórios de feedback, encerrando-se as atividades do projeto durante
o ano.
Algumas observações importantes do projeto
O período do projeto coincidiu
com o momento em que se deu o processo de regularização e entrega dos títulos
fundiários aos ocupantes da área.
Observou-se que, quando na
segunda visita, quando já haviam sido entregues os títulos fundiários de
usufruto dos terrenos, havia a presença de diversas novas construções.
Ainda, observou-se que algumas
casas que estavam em execução seguiam o padrão de construção tradicional, em
termos dos materiais e dos processos construtivos.
Algumas preocupações restaram
quanto ao futuro da área, mediante o fomento criado pela valorização dos lotes,
rompendo possivelmente com o caráter semi rural encontrado para a maioria dos
lotes.
Quanto ao repasse de tecnologia
do solo-cimento autoadensável, este se mostra pertinente, uma vez que na área ainda
restam predominantemente famílias com vocação para as atividades lúdicas e de
manuseio, ligada aos materiais cotidianos.
Sobre os serviços públicos na
área, do ponto de vista do cooperativismo, pode haver uma presença de adesão,
de modo que possa trazer as melhorias necessárias, tais como o transporte
escolar, a coleta interna do lixo, e a eletrificação por rede elétrica,
contudo, estes mesmos benefícios poderão influenciar no fomento dos lotes para
urbanização.
As vias que conduzem aos lotes
são não pavimentadas, sujeitas à concentração de águas e às dificuldades ao
tráfego durante o período das chuvas. Mas por outro lado, isto consiste em um
campo promissor para as experiências no município em áreas de estabilização de
solos.
Referências
BERMÚDEZ, M.
E.H. T, ALCANTARA, M.A.M. O solo-cimento
autoadensável com adição de pérolas de poliestireno expandido. In: Congresso Brasileiro
do Concreto, 56, Natal, 2014, IBRACON, ANAIS...IBRACON...2014, np.
BERTÉ, S.D;
ALCANTARA, MA.M. Estudo do comportamento do solo cimento autoadensável. REVISTA ELETRÔNICA DE ENGENHARIA CIVIL, Goiânia,
V.7, 2, UFG, 2013, pp.37-52
CLAVERIE, J;
ALCANTARA, M.A.M. Influência da cinza de casca de arroz e da cal hidratada na
resistência mecânica do solo-cimento autoadensável enurecido. In: Construção de
cidades verdes, Araçatuba, 2016, ANAP, Anais...ANAP, 2016, pp.559-572
MARTINS, J.S.
O futuro da sociologia rural e a sua contribuição para a qualidade da vida rural.
ESTUDOS AVAÇADOS, 2001, 15, 43, pp.33-36