Marco Antônio de Morais Alcantara
#TransferênciaDaEconomiaAgrária #IndustrializaçãoNoBrasil #SociedadeEconomia
A acumulação primitiva para a
industrialização do país se deu a partir da riqueza gerada pelo café. A cultura
do café se mostrou vulnerável com o contexto da economia mundial, que culminou
com a crise mundial de 1929. Alguns
cuidados foram conduzindo o país rumo à industrialização, a própria trajetória
da economia conduziu para isso.
Iniciamos falando da questão da
escravidão no Brasil. Como vemos nos dias de hoje, alguns protocolos devem ser
atendidos quando se pensa no desenvolvimento, especialmente quando se trata de
questões diplomáticas e éticas com outros países. A questão da escravidão era
uma dessas. Dentro da nova era econômica a escravidão era rejeitada pelos
países industrializados, pois, os escravos não tinham poder de consumo para comprar
os seus produtos.
Diante da insistência do Brasil
ainda manter o regime da escravatura, pressões foram exercidas por outros
países, em especial pelo governo inglês ao brasileiro, o que levou em 1831 que
o governo brasileiro assinasse uma lei que declarasse livres os escravos
importados ao Brasil a partir daquela data. Do não cumprimento desta lei a
Inglaterra editou a Lei Bill Aberdeen, a qual autorizava a sua marinha a atacar
navios que transportassem escravos. Estes eventos levaram a se aprovar no
Brasil em 1850 a lei Euzébio de Queiróz, proibindo o tráfico de escravos e
expulsando os traficantes do país.
Não obstante os conflitos éticos
e políticos internacionais motivados pela escravidão, o pensamento escravista
estava muito arraigado à mentalidade da elite brasileira, bem como dos que se
achavam livres, de modo que a liberação em massa da população escrava se deu a passos com muitas lutas, nas décadas que se
seguiam:
Lei do ventre livre: Esta
declarava livres todos os filhos nascidos de mães escravas a partir daquela
data, em 1871
Lei do sexagenário: Esta
declarava livre todo escravo com mais de 65 anos, a partir daquela data em
1885.
Em 1888 a escravidão foi extinta
por meio da Lei Áurea, após campanhas populares de abolicionistas, artistas
intelectuais, e da pressão internacional.
Os grandes produtores de
escravos, que se mostravam indiferentes com os conflitos que o país passava com
as grandes potências econômicas da época, como a Inglaterra, também achavam que
as ações do governo em favor dos escravos eram “ingerências”, de modo que não
aceitavam que o estado intervisse nas relações com os donos de escravos. Isto
favoreceu o enfraquecimento do poder imperial, dentre outras coisas, de modo a
se caminhar para o estabelecimento do regime republicano.
Observamos até aqui dois aspectos
importantes e que hoje se pode deparar quanto aos requisitos para um estado
moderno imerso em contexto internacional:
Um deles é o respeito para com a
ética em uma comunidade internacional e o outro é como é tratada a sua mão de
obra.
Não obstante a promulgação da lei
que libertava os escravos, e estes foram libertos do senhorio, cabe considerar
que em parte também isto se deu de modo a desobrigar os senhores dos nascidos
até então, e dos idosos, de modo que estes ficaram isentos de uma cobertura,
pois não existiam ainda os benefícios sociais ou planos diferenciados Estes
ficaram em extrema condição de dependência, fragilizados e sem nenhum amparo.
Do ponto de vista do
empreendedorismo, a questão da escravidão também implicava em que o capital que
seria empregado na compra de escravos poderia ser preferencialmente aplicado em
investimentos, tais como a compra de máquinas e acessórios.
Se por um lado resistentes quanto
à abolição, por outros alguns senhores já viam a nova ordem da perspectiva
mundial, diante dos custos éticos e morais para com a escravatura, e a nova
tendência de alcançar a mais valia após a industrialização, de modo que, alguns
senhores do agronegócio já se direcionavam para a industrialização.
Algumas outras questões ou no
contexto da época também tiveram influência para um início do deslocamento de
parte do agronegócio para o setor industrial.
O primeiro deles decorre do
próprio agronegócio, em vistas que:
Havia muitas dificuldades para
exportar outros produtos além do café, visto que, o açúcar sofria a
concorrência de outros tipos de açúcares, como o da beterraba, produzido na
Europa mesmo; o algodão sofria a concorrência do algodão de origem norte
americana; a borracha natural e o cacau, embora que tenham tido êxito por um
tempo, tiveram os plantios migrados para as colônias europeia nos países
tropicais.
O café foi o grande carro chefe
de exportação brasileira no início do século XX, tendo chegado a abastecer até
dois terços da demanda mundial. Contudo, os preços começaram a cair em decorrência
de um acúmulo nos estoques.
Um acordo realizado entre o
governo e os cafeicultores, conhecido como “Acordo de Taubaté”, editado em
1906, redigia que o governo compraria todo o estoque excedente da produção de
café produzido no Brasil, com a expectativa que este fosse liberado quando
houvesse a escassez do produto, atuando como um regulador para manter os preços
do produto no exterior. O acordo resultou em uma conta poupança para os
cafeicultores, capital primitivo para o início da industrialização. Em franco
desenvolvimento da cafeicultura surgiu a industrialização, em especial no
estado de São Paulo.
Outros aspectos do agronegócio, em especial a cafeicultura, foi a implantação de infraestrutura, a qual seria requisitada no início da industrialização. Ainda, o agronegócio requeria da utilização de acessórios e equipamentos, que, nesta época passaram a ser improvisados aqui.
Do ponto de vista das
contingências externas, têm-se as guerras, as quais dificultaram as importações
de produtos manufaturados, visto que na Europa se dedicava preferencialmente
para a fabricação de armas.
Alguns aspectos econômicos também
influenciaram, tais como a crise de 1929, desestimulando as exportações
brasileiras.
Em face da crise econômica e da
necessidade do equilíbrio em contas, foram desestimuladas as importações, e
estimulados os produtos fabricados aqui no Brasil. Desta forma, aumentou-se as
taxas de juros para a importação, e favorecidas as que conduziam à
industrialização.
Em termos de economia interna foi
lançado um plano pelo então ministro Rui Barbosa, o qual consistia em um
lançamento de moedas de modo a favorecer a circulação da economia, e de
permitir o pagamento de assalariados. Este programa foi denominado por
“Encilhamento”, e não funcionou por permitir a especulação econômica sem
produção.
A tabela abaixo apresenta a
variação dos números de indústrias e de operários, considerando-se os censos
industriais de 1907 e de 1920.
Número de empresas e de operários
Brasil (1906-1920)
|
||
Recenseamento industrial
|
Número de empresas
|
Número de operários
|
1907
|
3.258
|
150.841
|
1920
|
13.336
|
275.512
|
Fonte: Faria et al: 2010
Do ponto de vista da formação da
sociedade, a qual se compunha já de livres assalariados, em especial os imigrantes, os quais possuíam melhor condição
de consumo, e que requisitavam os diversos tipos de produtos.
Referências de apoio
COTRIM, G. História global Brasil
e geral São Paulo, 2007, Saraiva, 608p.
FARIA, R.M; MIRANDA, M.L; CAMPOS,
H.G Estudos de História, São Paulo, 2010, F.T.D, 352p.