Marco Antônio de Morais Alcantara
#Ciclovias #MobilidadeUrbana #PluralidadeNosTransportes
As cidades são objeto de
estudo notadamente a partir do século passado, e idealizadas no sentido de
atender aos anseios das populações, sobretudo, de otimizar os seus
benefícios. As propostas urbanas podem
ser concebidas de modo a se obter a racionalização em termos de funcionalidade,
dos custos de implantação, e ainda devem proporcionar melhor qualidade de vida
urbana. Se durante a revolução industrial as cidades eram moldadas para a
produção de lucro e de mais valia em detrimento da qualidade de vida, conforme
relata Mausbach (1981), outras propostas surgiram após, de modo a se poder humanizar
estas, como respostas aos anseios da população. Dentre estas propostas, cita-se
as cidades jardins, propostas por Howard na Inglaterra, e ainda, a Carta de Atenas, concebida na década
de 30 do século XX, veio a propor alternativas de modo a se buscar a funcionalidade e
a eficácia das estruturas urbanas, no sentido de se adaptar ao cotidiano do
homem moderno (LE CORBOUSIER, 1971). Hoje, se depara com problemas
contemporâneos, e que, do mesmo modo que no passado, também podem influenciar
sobre a maneira de se conceber a infraestrutura urbana.
Dentre os problemas
atuais se pode citar a formação de ilhas de calor, onde o problema da formação de ilhas de calor tem grande
relação com o desenho urbano e com os materiais utilizados. Além deste problema ambiental têm-se os já
conhecidos problemas resultantes da emissão de gases na atmosfera, em termos da
quantidade e da natureza destes. Cita-se o efeito estufa e as complicações quando nas inversões
térmicas. Também, o ruído urbano é um problema atual, vindo este em grande
parte dos sistemas de transporte, onde se distingue responsabilidades ao tipo
de tecnologia e ao tipo de pavimento. Ainda, a utilização de combustíveis
fósseis e a apropriação de materiais e de recursos minerais não renováveis,
havendo grande relação com a atividade produtiva no meio urbano.
Sob os aspectos de
gestão, um dos assuntos relevantes do presente século é o da mobilidade. Se por
um lado o advento do automóvel dinamizou as cidades no século passado, atribuindo
maior rapidez e autonomia às pessoas, hoje se depara com o problema de se
conciliar os diferentes meios de transportes, tendo em vista o crescimento da
frota de automóveis ocorrido nos últimos anos. Este bem não se limita mais a
apenas uma elite, e ainda, mediante fatores de custos e de benefícios, muitos
optam por utilizar outros meios de transporte, trazendo complexidades ao
tráfego urbano já sobrecarregado. Neste sentido, conforme INCT (2012), conforme
levantamentos realizados entre 2001 e 2010, o número de automóveis nas
metrópoles aumentou de 11,5 milhões para 20,5 milhões, e também, que o número
de motociclistas passou de 4,5 milhões para 18,3 milhões. Isto vem a aumentar a
complexidade na gestão do tráfego e do planejamento de vias urbanas. Freitas (2014) ressalta que o aumento do número de bicicletas no Brasil tem aumentado
com relação ao de automóveis, de modo a se apresentar mais próximo do padrão de
países europeus.
Algumas iniciativas têm
sido tomadas como medidas para a melhoria das condições de mobilidade, em
especial quando se considera a pluralidade mesmo em cidades pequenas. Dentre estas soluções tem-se a
criação de vias exclusivas para ônibus, ciclovias, ciclorotas, e caminhos de
pedestre. Freitas (2014) apresenta algumas considerações sobre o traçado urbano
e os aspectos relevantes sob os pontos de vista funcionais, com um estudo de
caso sobre a reativação e implementação de um sistema de ciclovias para a
cidade de Presidente Epitácio-SP, buscando aproveitar o potencial existente
para o tráfego de ciclista a partir de fatores topográficos favoráveis, cultura
local e, sobretudo, otimizando as condições onde o potencial de deslocamento é
maior, a partir de rotas já pré-estabelecidas. Ressalta a autora sobre os
benefícios do uso do transporte por bicicleta em termos técnicos, ergonômicos,
e de sociabilidade, ressaltando a necessidade de que o poder público estimule
esta prática.
Acredita-se que a maneira
de se conceber a cidade, em termos do desenho urbano adotado, pode ter
importância significativa para se definir as condições de mobilidade, uma vez
que o desenho urbano está associado ao metabolismo produtivo de uma determinada
sociedade, ressaltado em Rodrigues (1986). Lynch (2011) considera a “imagem da
cidade” definida a partir dos seus usuários, de onde se distingue as noções de
“lisibilidade” e de orientação, em termos de se poder traçar rotas e de se
estabelecer deslocamentos, vindo estas de elementos do desenho urbano, além de
ícones como monumentos ou elementos que personalizam a cidade na memória do
usuário. O desenho urbano pode contribuir para o favorecimento da implementação
de soluções relacionadas aos problemas de mobilidade, além de também pode
favorecer para a solução de outros problemas urbanos, como o das ilhas de
calor, de paisagismo, de drenagem, de melhor infiltração de água nos terrenos,
quando se consideram as respectivas tipologias associadas, sejam para
transporte, saneamento, ou habitação.
Considera-se de
fundamental importância que os gestores e os usuários possam atuar em sinergia
na implementação e no uso da infraestrutura urbana, havendo sucesso quando o
usuário se apropria para os seus hábitos o elemento construído, havendo o
respaldo da população (LACAZE, 1995). Neste
sentido, no momento atual são grande importância propostas alternativas de
transporte que impliquem em menor consumo de combustível, ou que não necessitem
de combustível fóssil, que diminuam o ruído urbano, e que procure favorecer a
pluralidade de tecnologias. Um aspecto interessante é que, como compreendido pelo texto, as medidas vão além de se implantar a infraestrutura, conforme atesta o site abaixo:
http://thecityfixbrasil.com/2016/08/08/fazer-da-bicicleta-uma-realidade-exige-mais-do-que-construir-ciclovias/?utm_source=TCFB&utm_medium=facebook&utm_content=bikerealidade&utm_campaign=redes_sociais
http://thecityfixbrasil.com/2016/08/08/fazer-da-bicicleta-uma-realidade-exige-mais-do-que-construir-ciclovias/?utm_source=TCFB&utm_medium=facebook&utm_content=bikerealidade&utm_campaign=redes_sociais
Referências
FREITAS, V. Análise da viabilidade técnica e ambiental de vias cicláveis na cidade de Presidente Epitácio-SP. FEIS/UNESP, 2014, 163p. (Dissertação de mestrado).
INCT
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia. Mobilidade urbana: Brasil e a opção
pelo transporte individual 2012. Acedido em 06/04/2013 em http://observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_k2&view=item&id=386%3Amobilidade-urbana-brasil-e-a-op%C3%A7%C3%A3o-pelo-transporte-individual&Itemid=164&lang=pt
LACAZE, J.P. A cidade
e o urbanismo. Lisboa, Piaget, 1995,
141p.
LYNCH, K. A imagem da cidade. Lisboa, 2011, edições 70,
198p.
LE CORBUSIER. Planejamento Urbano. São Paulo , 1971, Perspectiva, 203p.
RODRIGUES, F.M. Desenho
urbano, cabeça, campo e prancheta. São Paulo, 1986, 116p.
Sobre o autor:*Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.