domingo, 5 de junho de 2016

A IMPORTÂNCIA DA VISÃO DA PLURALIDADE DOS MEIOS DE MOBILIDADE QUANDO NA IMPLANTAÇÃO DE INFRAESTRUTURA VIÁRIA

Marco Antônio de Morais Alcantara

#Ciclovias  #MobilidadeUrbana  #PluralidadeNosTransportes

As cidades são objeto de estudo notadamente a partir do século passado, e idealizadas no sentido de atender aos anseios das populações, sobretudo, de otimizar os seus benefícios.  As propostas urbanas podem ser concebidas de modo a se obter a racionalização em termos de funcionalidade, dos custos de implantação, e ainda devem proporcionar melhor qualidade de vida urbana. Se durante a revolução industrial as cidades eram moldadas para a produção de lucro e de mais valia em detrimento da qualidade de vida, conforme relata Mausbach (1981), outras propostas surgiram após, de modo a se poder humanizar estas, como respostas aos anseios da população. Dentre estas propostas, cita-se as cidades jardins, propostas por Howard na Inglaterra, e ainda, a Carta de Atenas, concebida na década de 30 do século XX, veio a propor alternativas de modo a se buscar a funcionalidade e a eficácia das estruturas urbanas, no sentido de se adaptar ao cotidiano do homem moderno (LE CORBOUSIER, 1971). Hoje, se depara com problemas contemporâneos, e que, do mesmo modo que no passado, também podem influenciar sobre a maneira de se conceber a infraestrutura urbana.

Dentre os problemas atuais se pode citar a formação de ilhas de calor, onde o problema da formação de ilhas de calor tem grande relação com o desenho urbano e com os materiais utilizados.  Além deste problema ambiental têm-se os já conhecidos problemas resultantes da emissão de gases na atmosfera, em termos da quantidade e da natureza destes. Cita-se o efeito estufa e as complicações quando nas inversões térmicas. Também, o ruído urbano é um problema atual, vindo este em grande parte dos sistemas de transporte, onde se distingue responsabilidades ao tipo de tecnologia e ao tipo de pavimento. Ainda, a utilização de combustíveis fósseis e a apropriação de materiais e de recursos minerais não renováveis, havendo grande relação com a atividade produtiva no meio urbano.

Sob os aspectos de gestão, um dos assuntos relevantes do presente século é o da mobilidade. Se por um lado o advento do automóvel dinamizou as cidades no século passado, atribuindo maior rapidez e autonomia às pessoas, hoje se depara com o problema de se conciliar os diferentes meios de transportes, tendo em vista o crescimento da frota de automóveis ocorrido nos últimos anos. Este bem não se limita mais a apenas uma elite, e ainda, mediante fatores de custos e de benefícios, muitos optam por utilizar outros meios de transporte, trazendo complexidades ao tráfego urbano já sobrecarregado. Neste sentido, conforme INCT (2012), conforme levantamentos realizados entre 2001 e 2010, o número de automóveis nas metrópoles aumentou de 11,5 milhões para 20,5 milhões, e também, que o número de motociclistas passou de 4,5 milhões para 18,3 milhões. Isto vem a aumentar a complexidade na gestão do tráfego e do planejamento de vias urbanas. Freitas (2014) ressalta que o aumento do número de bicicletas no Brasil tem aumentado com relação ao de automóveis, de modo a se apresentar mais próximo do padrão de países europeus.

Algumas iniciativas têm sido tomadas como medidas para a melhoria das condições de mobilidade, em especial quando se considera a pluralidade mesmo em cidades pequenas. Dentre estas soluções tem-se a criação de vias exclusivas para ônibus, ciclovias, ciclorotas, e caminhos de pedestre. Freitas (2014) apresenta algumas considerações sobre o traçado urbano e os aspectos relevantes sob os pontos de vista funcionais, com um estudo de caso sobre a reativação e implementação de um sistema de ciclovias para a cidade de Presidente Epitácio-SP, buscando aproveitar o potencial existente para o tráfego de ciclista a partir de fatores topográficos favoráveis, cultura local e, sobretudo, otimizando as condições onde o potencial de deslocamento é maior, a partir de rotas já pré-estabelecidas. Ressalta a autora sobre os benefícios do uso do transporte por bicicleta em termos técnicos, ergonômicos, e de sociabilidade, ressaltando a necessidade de que o poder público estimule esta prática.

Acredita-se que a maneira de se conceber a cidade, em termos do desenho urbano adotado, pode ter importância significativa para se definir as condições de mobilidade, uma vez que o desenho urbano está associado ao metabolismo produtivo de uma determinada sociedade, ressaltado em Rodrigues (1986). Lynch (2011) considera a “imagem da cidade” definida a partir dos seus usuários, de onde se distingue as noções de “lisibilidade” e de orientação, em termos de se poder traçar rotas e de se estabelecer deslocamentos, vindo estas de elementos do desenho urbano, além de ícones como monumentos ou elementos que personalizam a cidade na memória do usuário. O desenho urbano pode contribuir para o favorecimento da implementação de soluções relacionadas aos problemas de mobilidade, além de também pode favorecer para a solução de outros problemas urbanos, como o das ilhas de calor, de paisagismo, de drenagem, de melhor infiltração de água nos terrenos, quando se consideram as respectivas tipologias associadas, sejam para transporte, saneamento, ou habitação. 

Considera-se de fundamental importância que os gestores e os usuários possam atuar em sinergia na implementação e no uso da infraestrutura urbana, havendo sucesso quando o usuário se apropria para os seus hábitos o elemento construído, havendo o respaldo da população (LACAZE, 1995).  Neste sentido, no momento atual são grande importância propostas alternativas de transporte que impliquem em menor consumo de combustível, ou que não necessitem de combustível fóssil, que diminuam o ruído urbano, e que procure favorecer a pluralidade de tecnologias. Um aspecto interessante é que, como compreendido pelo texto, as medidas vão além de se implantar a infraestrutura, conforme atesta o site abaixo:
http://thecityfixbrasil.com/2016/08/08/fazer-da-bicicleta-uma-realidade-exige-mais-do-que-construir-ciclovias/?utm_source=TCFB&utm_medium=facebook&utm_content=bikerealidade&utm_campaign=redes_sociais


Referências

FREITAS, V. Análise da viabilidade técnica e ambiental de vias cicláveis na cidade de Presidente Epitácio-SP. FEIS/UNESP, 2014, 163p. (Dissertação de mestrado).

INCT Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia. Mobilidade urbana: Brasil e a opção pelo transporte individual 2012. Acedido em 06/04/2013 em http://observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_k2&view=item&id=386%3Amobilidade-urbana-brasil-e-a-op%C3%A7%C3%A3o-pelo-transporte-individual&Itemid=164&lang=pt

LACAZE, J.P.  A cidade e o urbanismo.  Lisboa, Piaget, 1995, 141p.

LYNCH, K. A imagem da cidade. Lisboa, 2011, edições 70, 198p.

LE CORBUSIER. Planejamento Urbano. São Paulo, 1971, Perspectiva, 203p.

MAUSBACH Hs. Urbanismo contemporâneo. Lisboa, Presença, 1981.
RODRIGUES, F.M. Desenho urbano, cabeça, campo e prancheta. São Paulo, 1986, 116p.




Sobre o autor:*Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004);  e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.