sábado, 7 de maio de 2016

ALGUMAS TIPOLOGIAS URBANAS EM DESTAQUE

Morfologia urbana

Marco Antônio de Morais Alcantara

#TipologiaUrbana  #SistemaViário  #MorfologiaUrbana

O sistema viário pode ser concebido de modo que as vias tenham atribuições específicas. Em geral este pode ser associado ao espaço criado pelo entorno ao qual ele circunda, ou ao solo adjacente. Dentro da atribuição de vias pode-se contar com as vias de uso local, com as vias coletoras, arteriais e as vias expressas.

As habitações, por sua vez, podem ser individualizadas, geminadas, ou em múltiplos andares. Conforme a relação entre a área da projeção da área construída e a área do terreno, tem-se o índice de ocupação dos terrenos; e conforme a relação entre a área total e a área do terreno, tem-se o índice de aproveitamento dos terrenos, e finalmente, entre a área total construída e a projeção da área construída tem-se o índice de elevação.

As áreas verdes, comerciais, de recreação e áreas institucionais são mescladas dentro do desenho urbano de modo variado, visando a otimização dos deslocamentos, proximidade do cidadão, e se constituem em espaços de socialização e de vivência.

A Figura 1 apresenta uma vista geral de Toulouse-FR. Observa-se que o desenho urbano é característico de uma cidade muito antiga, exibindo irregularidades, e ausência de um padrão para os quarteirões nas regiões centrais, e mais antigas.

Figura 1: Visão geral de Toulouse e região metropolitana
Fonte: Google earth 2016



No centro antigo (Figura 2), a tipologia habitacional é marcada por edifícios cujas fachadas ocupam quarteirões, e cujos índices de elevação se limitam a 4; vielas antigas servem como caminhos de acesso aos prédios comerciais, e algumas das vias mais largas fazem o papel estruturador. Em face das necessidades, para se viabilizar as condições de mobilidade, algumas praças são dotadas de estacionamentos subterrâneos, além de abrigar as estações de metrô.

Figura 2: Visão geral da região central de Toulouse 
Fonte: Google earth 2016

Um tour em Toulouse pode ser visto no blog de France-Info. 

Tirando partido de algumas vias de maior capacidade e de vias expressas, um plano viário é estabelecido, de modo a se proporcionar uma configuração a partir das vias radiais e dos anéis, permitindo o acesso e o deslocamento dentro da região metropolitana (Figura 3).

Figura 3: Visão geral de Toulouse e região metropolitana com o plano viário principal
Fonte: Google earth 2016

Uma particularidade da região metropolitana de Toulouse é o "Canal du Midi", o qual é dotado de arborização e de caminhos para ciclos e pedestres, integrando o sistema de mobilidade urbana da região. O tipo de arborização predominante é o Plátano, que no outono-inverno perde as suas folhas, mas, no verão a copa destas árvores se encontram, produzindo sombra para os transeuntes. Conforme se observa na Figura 4, uma transposição das águas do canal é realizada sobre uma via expressa, de modo a permitir o cruzamento. A figura também ilustra alguns complementos viários, de modo a permitir a conexão entre partes diferentes da cidade, as quais seriam isoladas fisicamente pela presença da via expressa.   

Figura 4: Visão geral de região de Toulouse com o Canal du midi e via expressa
Fonte: Google earth 2016
(Ver Ilustração do Canal du midi em Toulouse)

A Figura 5 ilustra uma parte de Ramonville Saint Agne-FR, cidade limítrofe à Toulouse pela região sul.

Figura 5: Visão geral de interface Toulouse-Ramonville Saint Agne  com destaque para loteamentos.
Fonte: Google earth 2016

Distinguem-se algumas das tipologias viárias conhecidas: as vias de uso local, de uso restrito, como as que dão acesso ao condomínio, exibido na imagem, ou as ruas sem saída; ainda se percebe vias coletoras, e vias arteriais, que unem partes diferentes da cidade, como a que é apresentada na parte esquerda da foto. Para o loteamento onde as habitações são isoladas, o índice de ocupação dos terrenos não é muito elevado, e os terrenos não são impermeabilizados, de modo a poder haver áreas livres para a infiltração da água. O índice de elevação dos edifícios no condomínio é baixo. Deste modo, no conjunto apresentado não deve haver densidades habitacional e populacional excessivas, não sobrecarregando então as demandas por serviços públicos, e mantendo nível de qualidade tanto de atendimento dos serviços públicos como de vida.

Em termos de grandes projetos de urbanização para o atendimento de grande demanda populacional têm-se as regiões de Reynerie e Belle Fontaine, onde predominam estruturas urbanas inspiradas nos ideais de Le Corbusier (Figura 6)).  

Figura 6: Visão geral região de Toulouse com conjuntos habitacionais para atendimento de grande demanda

Fonte: Google earth 2016

Assim como no caso de Toulouse, a cidade do Porto-PT também se constitui em caso de cidade antiga, com uma parte antiga apresentando características bastante próximas (Figura 7).

Figura 7: Visão geral de Porto e região metropolitana
Fonte: Google earth 2016

Pode notar, pela Figura 8, referente à uma parte da cidade de Porto-PT, as grelhas do sistema viário principal definindo espaços que, internamente são parcelados de modo diversos, criando áreas autônomas conectadas à rede principal por meio das vias auxiliares de acesso.

Figura 8: Visão geral de Porto e com destaque para o sistema viário e modo de ocupação do solo
Fonte: Google earth 2016

A cidade de Barcelona-ES, por sua vez, apresenta aspectos peculiares com relação ao desenho urbano. As Figura 9, 10 e 11 ilustram uma parte da cidade, de onde se pode distinguir o centro antigo e a parte nova da cidade. De modo geral se caracteriza Barcelona pelo clássico "reticulado xadrez", cujas quadras são ocupadas por edifícios com baixo índice de elevação, e as esquinas são chanfradas, e que permitem melhor visibilidade pelos motoristas.

Figura 9: Visão geral de Barcelona e com o destaque para o centro antigo e regiões mais novas da cidade
Fonte: Google earth 2016

Figura 10: Visão geral de Barcelona com destaque para o sistema reticulado xadrez
Fonte: Google earth 2016


Figura 11: Visão geral de Barcelona e região metropolitana
Fonte: Google earth 2016

Este modelo de parcelamento do solo influenciou bastante as cidades cuja influência da cultura latina é predominante, a qual valoriza as praças, a vida pública, e as fachadas, contrariamente ao modelo de se mesclar a cidade com o campo (Para mais informações sobre Barcelona: 1 e 2)

Um exemplo da maximização da aplicação do modelo proposto por Le Corbusier é o plano piloto de Brasília, ilustrado na Figura 12.

Figura 12: Visão geral de Brasília com destaque para o modo de parcelamento e tipologia habitacional do plano piloto
Fonte: Google earth 2016

Edificações em múltiplos andares com baixo índice de elevação, superquadras dotadas de áreas livres e paisagismo, espaços internos de circulação, e espaços de convivência. Todavia, esta tipologia não é representativa do Distrito Federal, onde se distingue para outras regiões o elevado índice de elevação,  e o adensamento, em regiões com um elevado índice de aproveitamento dos terrenos (Figuras 13).

Figura 13: Visão geral do Distrito Federal com destaque para o modo de parcelamento e tipologia habitacional de regiões com alta densidade
Fonte: Google earth 2016

Perde-se a noção de vizinhança, de integração, em decorrência das elevadas densidades habitacional e populacional. Cria-se cidades estanques. A distância da escola, do local de trabalho, do mercado mais próximo, aparentemente passa a ter maior ou menor relevância, quando se considera os dois tipos de desenhos ilustrados na Figura 14. Por um lado, para os apreciadores do desenho, o aumento da densidade pela verticalização pode aproximar mais as pessoas e, deste modo, maximizar o proveito da infraestrutura implantada, e, por outro lado, o aumento do índice de aproveitamento dos terrenos implica em maior demanda para a implantação desta infraestrutura.

Figura 14: Visão geral do Distrito Federal com destaque para o modo de parcelamento e tipologia habitacional de novas regiões com diferentes tipos de parcelamento 
Fonte: Google earth 2016

A cidade de Palmas-BR foi projetada para ser capital de estado. Como peculiaridade de desenho ela apresenta a estrutura formada por grelhas, com a distância aproximada de 700 m do início de uma para outra, as quais podem ser parceladas de modo individual, formando mini bairros, com distinções ainda para o sistema viário (Figuras 15 e 16).

A Figura 15 procura mostrar uma visão geral do desenho urbano, onde se distinguem as super quadras, parceladas, uma grande avenida constitui um eixo central que estrutura a cidade conforme um desenho linear, as vias de secundárias que dão acesso às unidade loteadas, e as vias locais de acesso às residências. As vias são conectadas por rótulas, de modo a se evitar a utilização de semáforos. O centro administrativo se situa em um lugar privilegiado da cidade.   


Figura 15: Visão geral de Palmas com destaque para o modo de parcelamento do solo em forma de grelha e as vias estruturantes.
Fonte: Google earth 2016

O desenho urbano de Palmas, baseado em grelhas, procurou privilegiar a criação de mini bairros com vida auto-suficiente para as unidades de modo a se criar uma noção de vizinhança e também de racionalizar os deslocamentos e as distâncias de transporte. Algumas considerações podem ser feitas para a realidade da cidade na fase pós-ocupação: o parcelamento de cada superquadra é bastante diferenciado, conforme ilustra a Figura 16; mesmo as densidades habitacionais também são diferenciadas, de modo a não haver homogeneidade na forma de ocupação e demandas de serviços e de equipamento urbano.

As distâncias de transporte acabam sendo bastante longas para os moradores, de modo a que se privilegie hoje o transporte individual.   

Figura 16: Visão geral de Palmas com destaque para o modo de parcelamento do solo em forma de grelha e com diferentes tipos de ocupação
Fonte: Google earth 2016

A Figuras 17 a 19 ilustram as cidades Ribeirão Preto-BR, São José do Rio Preto-BR e Araraquara-BR. Algumas distinções podem ser feitas com relação ao grande adensamento, e homogeneidade no traçado das vias, caracterizando-se o reticulado xadrez, onde as vias muitas vezes recebem infraestrutura como que de igual hierarquia. Muitas cidades como estas são repartidas em função do meio físico. O índice de ocupação dos terrenos é bastante elevado, e com impermeabilização dos terrenos, característico de cidades brasileiras.

Figura 17: Visão geral de Ribeirão Preto com destaque para o modo de parcelamento do solo e ocupação no meio físico
Fonte: Google earth 2016

Figura 18: Visão geral de São José do Rio Preto com destaque para o modo de parcelamento do solo e ocupação no meio físico
Fonte: Google earth 2016

Figura 19: Visão geral de Araraquara com destaque para o modo de parcelamento do solo e ocupação no meio físico
Fonte: Google earth 2016

Observa-se nas cidades médias do estado de São Paulo que o meio físico se coloca como um importante divisor de partes da cidade, como córregos e elevações, além de vias férreas.

A cidade Indianápolis-USA é ilustrada na Figura 20, onde se procura distinguir baixas densidades habitacionais e índice de ocupação dos terrenos.

Figura 20: Visão um bairro de Indianápolis com destaque para o modo de parcelamento do solo e índice de ocupação dos terrenos
Fonte: Google earth 2016

Finalmente, apresenta-se o exemplo de Ilha Solteira-BR. A cidade foi projetada para abrigar trabalhadores durante o período da construção da Usina hidroelétrica de Ilha Solteira, permaneceu mesmo após o término da obra. Esta foi concebida com o intuito de ser uma cidade-jardim, estando bastante descaracterizada hoje pelas intervenções que foram realizadas posteriormente. Apresenta um plano viário com um eixo central, uma via perimetral circundada por um cinturão verde (Figura 21).

Figura 21: Visão geral de Ilha Solteira com destaque para o modo de parcelamento do solo e ocupação no meio físico
Fonte: Google earth 2016

A cidade apresenta sistema viário hierarquizado, e elevada densidade habitacional por meio da utilização de habitações geminadas, em maior parte. Deste modo têm-se um grande adensamento populacional, com elevadíssimo índice de ocupação dos terrenos, agravado pelas intervenções realizadas pelos moradores com a eliminação dos recuos frontais (Figura 22).

Figura 22: Visão geral de Ilha Solteira com destaque para o modo de parcelamento do solo e o adensamento para o núcleo urbano inicial 
Fonte: Google earth 2016

Este modelo tem sido reproduzido pelas novas áreas de expansão no município, após a emancipação da cidade, nos novos loteamentos (Figura 23).



Figura 23: Visão geral de Ilha Solteira com destaque para o modo de parcelamento do solo e o adensamento para novos loteamentos 
Fonte: Google earth 2016



Sobre o autor:Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004);  e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.