quinta-feira, 7 de abril de 2016

A PROBLEMÁTICA DA GESTÃO E OS PROJETOS URBANOS PARA CENTROS ANTIGOS DE REGIÕES METROPOLITANAS

Foto: Porto-PT

Marco Antônio de Morais Alcantara

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Contextualização

Normalmente o centro antigo representa o lugar onde genericamente se desenvolveram as relações de troca, de negócios, de prestação de serviços, e de atendimento dos serviços burocráticos. Ainda, no centro antigo se situam os marcos referentes à história do lugar, palco de eventos que contribuíram para as conquistas de uma sociedade local ou até mesmo nacional. O centro urbano antigo está então arraigado à vida de uma comunidade, e ainda se constitui em um espaço democrático para o indivíduo ou família de modo a se ter acesso ao lazer, atividade cultural, atividade religiosa ou de formação.

De modo geral, se requer para um centro urbano espaço disponível para a circulação, tanto de veículos como de pedestres, espaços livres para convivência, meios indicadores de orientação no espaço e vizinhança, equipamentos urbanos, e a lisibilidade em termos dos edifícios, ícones locais, vias urbanas com as suas conexões.

Com o crescimento das cidades de porte médio para metrópoles percebe-se o aparecimento de conflitos e disfunções urbanas dentro desta área. De uma parte, com o aparecimento do centro expandido alguns setores de atividade migram para outras áreas, menos conflitantes, como os setores de negócios, centros comerciais mais nobres, centros financeiros, mas, o antigo coração da cidade não deixa de pulsar, pois o antigo núcleo conserva ainda alguns dos setores de atividade mais ligados à vida cotidiana como o do comércio de varejo, o do atendimento de serviços públicos, o dos serviços bancários, dos restaurantes, dos hotéis, e ainda nele se concentram igrejas, teatros, estações de metrô e terminais de ônibus.

Normalmente o centro antigo apresenta grande resistência às transformações, pois, como apresentado, nele persiste o caráter de espaço livre, abriga as relações humanas de sobrevivência e também nele se situam os ícones que representam a memória da cidade, como monumentos, obeliscos e edifícios históricos.

Os conflitos dos centros urbanos antigos  

Alguns dos conflitos que podem ser apresentados para os centros antigos urbanos tem relação com o fato deste ser um espaço de polarização.

De fato, com relação aos transportes, por exemplo, tem-se os problemas de congestionamento e de busca por estacionamento. Ainda, com relação às vias que se conectam ao centro, comumente se  apresentam gargalos localizados, tanto em razão do mau planejamento das vias que conduzem ao centro, como das que permitem a saída deste. Um centro urbano também abriga a trajetória das principais linhas de ônibus da cidade, cujos traçados muitas vezes se superpõem, trazendo conflitos entre automóveis e veículos de transporte coletivo, cujos espaços para paradas são imperativos.  

Um outro aspecto é o sanitário. Com relação às vias urbanas e aos espaços públicos a limpeza urbana e a drenagem urbana são importantíssimas, tendo em vista a produção de descartes e a sua acumulação. Já com relação aos terminais urbanos, estes devem estar capacitados para atender um número maior de usuários, mantendo-se as condições sanitárias, em termos de instalações e de corredores de circulação, atendendo-se aos espaços requisitados.

Com a complexidade das atividades e com o número de pessoas que passam pelo centro, as condições de segurança passam a ser reclamadas. Juntamente com isso, tem-se a preocupação com a necessidade de regulamentação das atividades, a segregação de atividades conforme a natureza, e a preocupação com a poluição visual, diante da competitividade por clientes.

Ainda, os centros antigos estão relacionados à obsolescência das estruturas presentes. Nota-se nestes espaços a dificuldade de trânsito para pedestres, assim como a inadequação para indivíduos deficientes, fato que vem sendo alvo de políticas de inclusão. Muitos dos edifícios antigos são ainda mal conservados e não dispõem de condições de segurança e de acessibilidade.

Finalmente, tem-se as condições climáticas.

Os centros antigos são de modo geral mineralizados, algumas vezes desprovidos de arborização, tomados os espaços por marquises, e por acessórios como bancas de revistas, e toldos de estabelecimentos comerciais, de modo a se constituir em ilhas de calor. Normalmente as temperaturas médias diárias são mais elevadas nas regiões centrais do que na periferia, assim como as variações térmicas são menores entre os períodos do dia e da noite. Uma parte do comércio e dos serviços é reconduzida para galerias climatizadas, as quais aumentam o consumo de energia com a climatização.

A revitalização de centros urbanos

A revitalização de centros urbanos tradicionais tem sido um desafio para administrações municipais em regiões metropolitanas, e ela tem sido acatada em diversos centros de renome, como Londres, Paris, Toulouse e outros. Uma questão que se coloca é: porque investir na recuperação de centros urbanos?

Considerando a vontade do capital imobiliário este desafio tende a ser ignorado, de modo a se ganhar mais valia em áreas que lhe forneçam maior retorno. Muitas vezes este se beneficia quando uma iniciativa pública teve já lugar, de modo a se promover a valorização das áreas que são alvo de intervenção, trazendo serviços locais e melhorias.

Novas visões têm surgido dentro desse aspecto de intervenção, a partir de novos fatos. A cidade tem por função um papel econômico e competitivo. Considerando ainda cidades médias, uma nova empresa de grande porte ou de tecnologia sofisticada poderia ter sua sede em Londrina-PR, Uberlandia-MG, Anápolis-GO ou em Caruaru-PE. A cidade tem que oferecer condições satisfatórias de vida tanto para empreendedores como para atrair mão de obra qualificada. O centro urbano é um cartão de visitas do município, assim como as condições locais de aeroporto, centros educacionais disponíveis e outros serviços.

O conceito de revitalização tem sido ligado ao conceito de qualidade de vida. As revitalizações passam pelo processo de se compreender uma nova diversidade, de modo a se poder intervir no ambiente construído, tirando-se partido de suas principais configurações originais, e dar a estas melhores condições de funcionalidade.

Nesse sentido, os projetos urbanos para centros antigos normalmente preveem:

-Novos sistemas para iluminação pública, podendo-se juntamente tirar partido do paisagismo referente a vegetação e aos edifícios históricos;  
-revitalização de edifícios históricos e de monumentos;
-despoluição visual, estabelecimento de normas para comunicação urbana;
-sinalização urbana, e implantação de sistemas de segurança por câmaras;
-requalificação de vias em compatibilidade com os eixos urbanos;
-promover a criação de novas áreas verdes;
-criar condições acessibilidade;
-criar vias e espaços exclusivos para pedestres;
-criar condições de estacionamentos.


Ressalta-se que algumas das cidades europeias tem limitado o uso de veículos nos centros urbanos, em favorecimento de espaços de circulação para pedestres, de implantação de áreas verdes, da implantação de ciclovias. 

http://thecityfixbrasil.com/2016/03/19/nova-vida-para-o-centro-de-lisboa/?utm_source=tcfb&utm_medium=facbeook&utm_campaign=revitalizacao-lisboa

http://www.toulouse.fr/web/projet-urbain/-/toulouse-eurosudouest-un-projet-strategique-avec-l-arrivee-de-la-l-1

http://www.toulouse-metropole.fr/-/2019-des-ramblas-sur-les-allees-jean-jaures?redirect=%2F

Este aspecto merece grande atenção, pois, o ser humano passa a ser mais valorizado dentro da estrutura, sendo o elemento mais importante, contrariamente á visão tradicional da cidade formatada para a mais valia em detrimento da qualidade de vida.



Sobre o autor:

Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004);  e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.