Marco Antônio de Morais Alcantara
#DesenhoUrbano #FuncionalidadeDoDesenhoUrbano
Quando se fala em layout, se pressupõe a ideia de um croquis, de alguma coisa, de modo que esta coisa seja funcional. A configuração proposta para um
layout urbano pode ser definida em função de fatores diversos, como: a
imposição do meio físico, a tradição construtiva, ou os fatores de organização
social, como já tem sido apresentado.
No caso do tradicional sistema de
‘reticulado xadrez’, os quarteirões são normalmente uniformes, quadrados ou retangulares, e dispostos de
modo adjacente, e as vias assumem, a priori, igual hierarquia. Existe monotonia
no traçado e na morfologia urbana, repetitiva, as quais não são necessariamente influenciadas pelas modificações do meio físico. Por causa disto, muitas disfunções urbanas têm sido
geradas, em termos da funcionalidade dos sistemas de infraestrutura urbana, da
priorização de tráfego, da segurança do usuário, e ainda dos custos, quando na
implantação de obras deste tipo de infraestrutura.
Os lotes, neste caso, são tratados
como unidades individuais, não se refletindo, a priori, sobre as intervenções que
serão necessárias para a implantação das edificações.
Concepção urbana conforme o modelo do “reticulado xadrez”
Por outro lado, pode-se pensar em
outros tipos de desenhos, onde é possível tirar partido da hierarquização viária,
e de melhor atribuição dos espaços. Para ese tipo de caso, as vias recebem vocação diferenciada, como, nos casos delas serem de uso exclusivamente local, ou de serem vias coletoras. As
unidades “quarteirões’ podem assumir geometrias diferentes da quadrada ou retangular,
favorecendo a adequação do traçado viário à conformação do meio físico, e ainda, ao melhor empacotamento habitacional. Normalmente, se tira partido da
viabilização de uma tipologia habitacional associada ao tipo de desenho. Os lotes, e as disposições das
habitações, podem ser ajustados conforme as proposições para o traçado das
quadras, e das vias, e ainda dos caprichos do meio físico.
Concepção
urbana com ruas locais sem saída e lotes individuais
Quanto à tipologia habitacional, o
traçado pode constituir-se de modo que, os lotes sejam perfeitamente
individualizados, com habitações isoladas umas das outras, ou também, pode-se trabalhar com a tipologia habitacional definida por habitações
geminadas.
Concepção urbana com lotes e habitações individuais e lotes com habitações
geminadas
Finalmente, tem-se o caso de se
‘romper com o quarteirão’, conforme proposto por Le Corbusier. A tipologia
habitacional para esta situação pode ser definida à partir de edifícios de múltiplos
andares, e o entorno também pode ser enriquecido com áreas verdes, parques, estacionamentos, e
outros tipos de equipamentos urbanos, além de um sistema viário de acesso ao
condomínio.
Concepção
urbana rompendo com a rua e o quarteirão
Alguns
reflexos do tipo de layout urbano na propriedade individual e na autonomia do
usuário
Em geral, um traçado conforme o
sistema de reticulado xadrez, de lotes, e de habitações individualizados, permite conceber a ilusão de que esta seja uma forma que atribui maior
liberdade de utilização do espaço privado, por parte do proprietário, salvo,
evidentemente, quando se impõem as restrições do código de obras local, ou quando a restrição é do
meio físico; a interface “lote-conjunto sistema viário” constitui-se, aparentemente, como o vínculo do indivíduo com a estrutura urbana.
Quando se considera o traçado
hierarquizado, este permite que o proprietário arbitre pouco sobre a sua
maneira de intervir no espaço, pois esta proposta pode impor condicionantes em
decorrência do meio físico e da tipologia habitacional proposta. Tem-se, ainda,
que nestes casos, as áreas dos lotes podem ser menores, e com a contra partida de se ter disponíveis áreas
de uso compartilhado para vivência, como áreas verdes e parques, impondo restrições
para a autonomia do usuário.
Já no caso dos sistemas de
edifícios de múltiplos andares, à Corbusier, todo o conjunto é racionalizado, de
modo a se considerar o espaço do entorno como extensão do espaço individual,
comum a todos, de modo que a condição de arbitragem individual se
torna ainda menor do que nos casos anteriores. Toda pluralidade de construções
nestes casos é concebida de modo de modo a se promover o desenvolvimento
humano, a aumentar a qualidade de vida, e o nível de relacionamento entre os
indivíduos de uma mesma coletividade.
Outro aspecto é o do custeio
dos serviços implantados. Nos serviços urbanos básicos que envolvem a vida social do
loteamento, os custos devem ser rateados por unidade de habitação,
independentemente da utilização de cada serviço particular, ou da aprovação
individual da implantação de um tipo particular de serviço.
Alguns aspectos sócio culturais e a morfologia
urbana
Segundo Goitia (1982)*, as
diversas civilizações puderam promover diferentes tipos de cidades, conforme as
suas nuances culturais.
A cidade grega, a cidade estado,
era compreendida como o conjunto dos eleitores, sendo que, eram eleitores
aqueles que poderiam intervir na ordem moral e judiciária da cidade. Por outro lado, a cidade nórdica era a cidade
que preservava o modo de vida campestre, e surgiam as ruas e logradouros como
que do ajuntamento de edificações, a vida do campo era valorizada; já a cidade
latina era a urbe, a qual procurava romper com o campo, era valorizada a praça,
como espaço político social e para discussões, e também as fachadas dos edifícios, de modo que o movimento das pessoas era de fora das casas para os
espaços de discussão; contrariamente, na cidade nórdica a praça existe mas não
como na cidade latina, e em seu lugar predominam gramados e campos, resgatando a vida com a natureza.
A cidade muçulmana tinha algo de
diferente do que as demais, pois a religiosidade e a vida privada eram aspectos
muito relevantes; no lugar da ágora grega, e das praças latinas, ou dos campos
abertos, predominam as mesquitas; as casas são valorizadas no interior, e as
fachadas negligenciadas, as ruas ou logradouros são como que consequência do
labirinto criado pelas edificações.
Nota-se que, as cidades e o desenho
urbano procuram estar em sintonia com a cultura de cada povo, e interessa como
que cada tipo de usuário se apropria do espaço, e nele intervém, da maneira que
ele se organiza e vive.
*GOITIA, Fernando Chueca. Breve história do urbanismo. Coleção Dimensões, Martins Fontes, Presença, Lisboa, São Paulo; 1ª edição, 1982.
Sobre o autor: *Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.
*GOITIA, Fernando Chueca. Breve história do urbanismo. Coleção Dimensões, Martins Fontes, Presença, Lisboa, São Paulo; 1ª edição, 1982.
Sobre o autor: *Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.