terça-feira, 12 de julho de 2022

CONTEXTOS DE OPERAÇÃO DAS VIAS URBANAS E MUNICIPAIS: PECULIARIDADES DE SERVIÇO E ALGUMAS SOLUÇÕES TÉCNICAS

 


Marco Antônio de Morais Alcantara


Neste artigo se tomará em consideração as condições sobre o uso do solo, as condições de tráfego, implicando no tipo de solicitação, e os consequentes cuidados no dimensionamento e na integração dos serviços,  juntamente com propostas de materiais. Algumas soluções técnicas para assuntos específicos serão discutidas.

 

O uso do solo:

Com relação ao solo em um município, em primeiro ugar se podem distinguir os casos dos solos urbano e solo rural.

Com respeito ao solo urbano, podem ser consideradas diferentes atribuições do sistema viário, das quais se distinguem, por exemplo, as vias de uso local, vias coletoras, vias arteriais e hoje, bastante implementados, nas metrópoles, os anéis viários.

Diferentes papéis podem estar associados a estas atribuições viárias, sobretudo, com a sua relação com relação ao uso do lindeiro, as quais podem implicar em diferentes demandas de tráfego, velocidades de operação, solicitações e requisitos de desempenho.

Podem ser considerados, dentro da malha urbana, os corredores de tráfego, por onde devem circular, preferencialmente, os veículos pesados tais como ônibus, e a frota de serviços que atendem a fornecedores, suprindo-os com os seus produtos.

Diferentes tipos de materiais podem ser utilizados, de modo que os pavimentos possam atender aos seus requisitos de desempenho, ditados pela capacidade de suporte do pavimento, a durabilidade, a infiltração d’água limitada, a ausência de ondulações, as condições favoráveis de rolamento e a eficiência da sinalização.

A capacidade viária, em termos do fluxo livre de veículos por unidade de tempo, pode ser requerida de modo diferente, de tal modo que diferentes configurações podem ser necessárias ou adequadas, implicando em diferentes números de faixas, ou largura do leito carroçável, podendo essas serem até reduzidas em casos de vias exclusivamente de uso local.

Os materiais poderão ser adotados com base em um dimensionamento adequado, sendo que, para alguns casos o imperativo é a durabilidade, de modo que seja maximizada, e com menores incidências de necessidade de manutenção, e com a concomitante interrupção do trecho.

Um aspecto interessante para os casos de pavimentação urbana é a interação desta com outros tipos de infraestrutura, como, por exemplo a drenagem, sistema ao qual ela também faz parte. Também os passeios estão de alguma forma atrelados aos sistemas de circulação, de modo que se possa tirar partido no projeto urbano. Conforme o caráter da via e do uso do solo, pode-se arbitrar sobre os espaços definidos a cada um dos subsistemas.

 

O meio rural:

Fora do meio urbano, no meio rural, existem as estradas vicinais.

Estas têm por finalidade conectar as diferentes propriedades rurais, e comunidades rurais, ao meio urbano.

Normalmente estas vias são trafegadas por veículos de propriedade particular, além de veículos escolares, veículos públicos, e veículos para o transporte da produção do agronegócio regional.

Na maioria das vezes, estas vias não são pavimentadas. Um desafio administrativo é o de garantir a trafegabilidade destas vias durante o ano todo.

 

As soluções técnicas:

Diante dos diferentes contextos de operação, as soluções técnicas surgem, de modo a poder conciliar as demandas e os requisitos para cada situação particular.

As propostas técnicas atendem a diferentes níveis de serviços.

A decisão por pavimentar, ou o quanto fazer, já contempla uma decisão técnica.

O fato de se pavimentar uma via pode influenciar para o aumento do tráfego dessa via.

Como dito a integração da pavimentação com outros serviços, ou áreas urbanas, podem ser tratadas de modo integrado. Alguns fatores de sustentabilidade são integrados hoje aos sistemas de pavimentação.

Fatores como o clima são tomados em consideração diante da formação de “ilhas de calor”, fato que pode estimular o planejamento do sistema viário em associação com as áreas de paisagismo.

Conhecido é o efeito da impermeabilização do solo pela urbanização, conduzindo ao aumento da impermeabilização do solo. Isto em contribuído para a exploração do desenho urbano de tal modo a privilegiar as melhores condições de infiltração da água no solo, com a adoção de áreas livres, com vegetação, e ainda, com o uso de pavimentos permeáveis, que permitam a infiltração de água nos terrenos. Esta visão se coloca ao lado daquela que considera que os sistemas de drenagem tradicionais “empurram” o problema para a jusante.

Os pavimentos permeáveis têm sido utilizados em locais de estacionamentos, ou em locais de tráfego leve, tais como no caso das ciclovias.

Alguns dos materiais utilizados nos sistemas de pavimentação hoje podem ser materiais reciclados, ou reutilizados, conforme preconiza a engenharia verde. Dentro deste contexto, podemos citar os resíduos de construção, para o caso da fabricação de concretos permeáveis, ou resíduos de pneus inservíveis, como fibras para a melhoria de asfaltos, quanto ao aumento das condições de ductilidade, diante do envelhecimento gradual, com a perda das condições de elasticidade, e ganho de rigidez. O uso de fibras ajuda no aumento da vida útil do pavimento.

Em corredores de tráfego, uma discussão tem sido considerada em favor dos pavimentos de concreto, de modo que a sua eficiência seja melhor, por apresentarem maior rigidez, melhor regularidade e ausência de ondulações, favorecendo o fluxo de veículos e, sobretudo, com menor consumo de combustível. Os pavimentos de concretos estariam também menos sujeitos à dissolução, provocados pelo derrame de combustível pelos veículos.

Nos casos de estradas vicinais, se depara com dois problemas notáveis: a presença de pó durante os períodos de seca, e a formação de barro, concentração de águas, e a não trafegabilidade durante os períodos de chuvas.    

Para contornar o problema, são realizadas frequentes manutenções pelo poder público, com a regularização da via com o uso de motoniveladoras, e o agulhamento com o uso de cascalhos e materiais granulares diversos.

Algumas soluções existem, como o tratamento anti-pó, e o uso de estabilizantes de solo.

Os produtos anti-pó podem atuar favorecendo a retenção de umidade do solo, e podem ser sais, tais como o cloreto de sódio e o cloreto de cálcio. Alguns produtos podem ser disponibilizados no mercado. Aqui se preocupou em tratar do princípio ativo.

Com relação ao tipo de solo local, pode-se considerar, em primeiro lugar, as condições deste solo para desempenhar como subleito. No caso de o solo não apresentar boa capacidade como subleito, se pode realizar o “reforço do subleito”, através de uma das alternativas: (i) por estabilização granulométrica; ou (ii) por estabilização química.

No caso da estabilização granulométrica, esta pode ser complementada com a utilização de geotexteis. Estes poderão colaborar na separação de fases, no sentido de impedir a migração de elementos granulares do reforço para o interior do solo.

A estabilização química poderá contribuir dentro de seus objetivos, sejam: (i) melhoria das condições de plasticidade do solo, de modo a poder garantir as condições de trafegabilidade; e também de permitir as condições de operação para a execução dos serviços de pavimentação; (ii) conter a expansão de solos, que podem ocorrer em razão da presença de argilominerais expansivos, tais como “montmorilonita”, cloritas e micas, do tipo 2:1.

Os problemas de plasticidade dos solos são resolvidos pelo uso da cal, ou do cimento. Os íons de cálcio interveem no complexo de troca iônica dos solos, induzindo-os à floculação e à diminuição do índice de plasticidade dos solos. No caso do uso de cimento, a parcela de cal presente após a hidratação do cimento cumpre com o papel ora descrito.

Os problemas de expansão de solos podem ser resolvidos pela cimentação dos solos, promovida pela presença do aditivo, e ainda, pela menor impermeabilidade promovida pela estabilização.