sábado, 21 de julho de 2018

A PROBLEMÁTICA DA EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS DE PAVIMENTAÇÃO URBANA



Marco Antônio de Morais Alcantara

#Pavimentação #OrientaçõesDeExecução

Os serviços de pavimentação urbana constituem-se um grande percentual das obras urbanas, tanto em termos dos encargos como dos custos. Assim, se considera importante uma breve reflexão sobre o tema, especialmente quando considerado o contexto do meio urbano.

Aspectos relevantes sobre os sistemas de pavimentos urbanos comparados aos casos dos pavimentos rodoviários

Especialmente no contexto de implantação e dos requisitos de desempenho, um aspecto importante é apresentado conforme em MORETTI (1987), sobre a diferença entre os pavimentos urbanos e os pavimentos rodoviários. Estas diferenças trazem peculiaridades para com as obras de pavimentação no meio urbano, de modo a se evitar patologias.

Para o caso de implantação de pavimentos rodoviários, podem existir grandes volumes de cortes ou de aterros, assim como, as condições de implantação dos sistemas de drenagem de águas pluviais são mais flexíveis em termos de espaços para a implantação. Para o caso de obras urbanas, como os de arruamentos de vias, as condições de topografia e de traçado são impostas conforme o parcelamento do terreno, assim como, existem as limitações impostas pelo uso do solo lindeiro, de modo que as condições de drenagem e escoamento das águas pluviais são menos arbitradas pelo projetista. Um outro aspecto construtivo importante para o caso da construção de vias urbanas é a necessidade de conciliação com outros tipos de infraestruturas, como as redes de serviço.

Quanto ao tráfego urbano e o tráfego rodoviário, as velocidades são menos sujeitas a variações para os casos de pavimentos rodoviários, e ainda sujeitas a menores quantidades de frenagens e de mudanças de direção. Isto faz com que solicitações de cisalhamento entre a camada de revestimento e a base sejam menores para os casos de pavimentos rodoviários. Para o tráfego urbano são também maiores as interrupções de movimento. No caso de derrame de óleo no pavimento, pelos veículos estacionados, este é maior para os casos de pavimentos urbanos.  Existe ainda o fato de que as vias se cruzam em interseções em nível, gerando conflitos e dificuldades quando na definição da conformação da área e da drenagem.

Aspectos relativos à execução de pavimentos

Uma das questões importantes sobre a execução é a compactação do sub-leito. Neste caso se torna necessários que os parâmetros de compactação sejam atendidos. De início, tem-se o acerto da umidade. 



O atendimento da umidade ótima de moldagem é um requisito a se adotar, aplicando-se precisamente a umidade ótima de moldagem relativa ao tipo de solo, sendo que, em caso de o valor da umidade ser inferior ao da resultante, a densidade de projeto não será alcançada, e, em outro caso, havendo o excesso, o processo será dificultado, podendo haver a presença de ondulações e fissuração no material compactado.

Um aspecto curioso, é que alguns aditivos são diluídos em água para serem aplicados, devendo, então, que se desconte a quantidade de água utilizada na diluição quando no cálculo da quantidade de água de moldagem.

Outra questão é a sistemática adotada durante as obras, a qual pode permitir, por exemplo, que ocorra a precipitação sobre um trecho durante os trabalhos de compactação. A compactação sob condições de umidade excessiva pode provocar problemas como ondulações, conhecidos popularmente como “borrachudos”, necessitando a posterior reparação dos trechos.

Também, o “número de passadas” do rolo compactador deverá ser coerente com a energia a ser aplicada para que se alcance a densidade de projeto, conforme os parâmetros de compactação do solo. Além de se atentar para o número de passadas, também deve se considerar o tipo de rolo que se está utilizando, o qual deve ser compatível com o tipo de solo.

De modo geral pode se considerar a capacidade do rolo em termos da energia aplicada ao solo, e da espessura das camadas a serem compactadas. Um outro aspecto é o tipo de rolo e a eficácia deste na compactação. Neste sentido, o rolo liso é adequado de modo preferencial para solos arenosos, enquanto que os rolos do tipo “pé de carneiro” são adequados para solos argilosos e areno-siltosos. Para os casos dos solos arenosos, ainda se pode fazer combinada a ação da vibração, é o caso do rolo liso vibratório.

Com relação à área a ser pavimentada, na compactação pode-se levar em consideração às diferenças relativas às condições de compactação que podem ser alcançadas em diferentes partes do pavimento, como no caso de situações de alargamentos, ou quando junto às guias de sarjetas. Isto pode conduzir a recalques diferenciais no subleito. No caso de haver obras enterradas deve se ter cuidados com a utilização do rolo vibratório, pois estas podem ser afetadas.  

Com relação à aplicação dos materiais betuminosos, existem também alguns cuidados a serem procedidos. A imprimadura não pode ser negligenciada, após a conclusão dos trabalhos de compactação. Esta tem por finalidade impermeabilizar o subleito, e de proporcionar aderência entre o material betuminoso e o subleito.

Na construção da base ou do revestimento a quantidade de material betuminoso deve ser adequada, de modo que o material granular seja aglutinado. O excesso de material betuminoso pode provocar a exsudação, e no caso a falta da insuficiência deste, a perda do poder ligante, conduzindo-se à degradação futura do pavimento, com a fácil formação de panelas e com a desagregação precoce do pavimento.  No caso da presença de materiais finos em composição, o seu excesso pode conduzir à fissuração do pavimento, em razão das propriedades de retração peculiares a este tipo de material.

Caso de condição de projeto

Dentre estes assuntos deve-se atentar para as condições de drenagens oferecidas pela via, de modo a se promover o escoamento das águas; deve-se fazer o abaulamento da pista no sentido de se favorecer o escoamento das águas, de modo que elas não fiquem concentradas no leito carroçável. A conformação geométrica da pista deve ser de tal modo que ela não apresente ondulações e irregularidades, pois, desta forma, a água poderá se concentrar na pista, favorecendo a infiltração e a degradação da base, e também, proporcionará desconforto ao condutor, além de contribuir com resistência ao rolamento e aumentando o consumo de combustível.

Projeto, pós-ocupação e as questões de desempenho

Os problemas de pavimentação que podem ocorrer estão relacionados ao projeto e a concepção, e ao desempenho na fase de pós-ocupação. Dentre os fatores de projeto a demanda de tráfego é um fator importante, devendo haver compatibilidade entre o dimensionamento do pavimento e as cargas realmente aplicadas quando na pós-ocupação. Muitas vezes o pavimento pode ser sub-dimensionado, e em outros casos uma via pode sofrer modificações em sua importância, sem o devido planejamento, de modo que o tráfego não esperado venha a contribuir para a degradação do pavimento.

O número de frenagens, os esforços aplicados pelos veículos quando em mudança de direção, a presença de óleos derramados pelos veículos, podem também solicitar o pavimento, ou podem contribuir para que o pavimento constituído de material betuminoso sofra dissolução. É importante saber de antemão como determinada via deverá ser utilizada.


MORETTI, R.S. Loteamentos: Manual de recomendações para elaboração de projetos. São Paulo, 1987, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 179p.