Marco Antônio de Morais Alcantara
#InfraestruturaUrbana #MeioFísico #MorfologiaDoMeioFísico #DrenagemUrbana
A
conformação do terreno, sistemas viário e edificações
Quando
se pensa na construção urbana um aspecto de grande importância é o da forma da
superfície do terreno. Esta pode nos comunicar coisas importantes a serem
consideradas tanto quando na fase de construção como na da pós-ocupação. Na
fase da construção, por exemplo, pode-se levar em consideração, os movimentos
necessários de terra para chegar à topografia desejada, os bota-foras para os
descartes, assim como os cortes de desbastes de terreno necessários para a
instalação das futuras construções, e, os acessos das edificações às redes
públicas.
Ainda
na fase de construção, pode-se considerar a posição do lençol freático, e a
possibilidade de que ele seja interceptado, trazendo transtornos para as
escavações.
A Figura 1 apresenta o contexto do lençol freático em meio às construções
urbanas.
Figura 1:
Contexto do lençol freático em meio às construções urbanas
Quanto
à fase do pós-ocupação, pode-se tomar em consideração como aspectos importantes
as condições favoráveis para as condições de drenagem na área, não havendo
possíveis concentrações de águas. Também são considerados importantes à
acessibilidade da área e o consumo de combustível, e a velocidade de escoamento
das águas de efluentes em sistemas de esgoto sanitário.
Um
outro aspecto importante na forma da superfície pode ser a climatização da
área. A liberdade para os ventos, a canalização das águas, a condição de
incidência dos raios solares, podem esta relacionadas à forma da superfície dos
terrenos (Figura 2).
Figura 2: Tipos
de terreno ou elementos da topografia e a influência sobre a climatização, como
no caso de terreno plano (a), e colinas (b)
Situação de drenagem com relação ao desenho urbano e
a conformação do meio físico
Consideremos
o caso particular de um divisor de águas. Este é representado pelo espigão, onde o
escoamento das águas é favorecido, e as águas tendem a não ficar concentradas no
pavimento (Figura 3a). Uma outra situação é aquela que é dada quando se tem uma rua
acompanhando a curva de nível (Figura 3b). Neste caso, deverá se encontrar condições
adversas para o escoamento das águas pluviais, tendendo estas a ficar concentradas
na via. Este desenho ainda implica que, por outro lado, quanto à via que está posicionada de modo ortogonal às
curvas de nível, em uma vertente, tem-se que, esta pode apresentar declividade
acentuada, resultando em maiores velocidades para o escoamento das águas, e
trazendo como consequências a erosão do solo ou
de pavimento, conforme às tolerâncias dadas pelas velocidades limites (Figura 3b). A Figura 3c apresenta um caso intermediário, onde as vias ortogonais tem oportunidade de escoamento das águas pluviais.
Figura 3: Posição das vias com relação
às curvas de nível
Um
outro caso que deve ser ressaltado é o de uma linha de drenagem natural no
terreno. Esta é caracterizada por uma região onde devido à sua conformação o
escoamento se dará de modo concentrado (Figura 4). Normalmente esta região é dotada de
vegetação, à qual é protetora da encosta. Recomenda-se que estas áreas sejam
resguardadas de modo a se evitar possíveis problemas erosivos.
Figura 4: Caso
de drenagem natural do terreno
A
problemática da evacuação das águas do meio urbano
Isto
é um caso particular de interação entre os sistemas de infraestrutura urbana e
o terreno. Já é conhecido que no meio urbano tende a ser favorecido o escoamento superficial. A disposição dos sistemas pode ser importante quando a
disposição do núcleo urbano pode induzir a um gradiente de energia potencial, o
qual é gasto quando no lançamento das águas no meio físico. Esta dissipação de
energia pode se dar de modo danoso ao meio físico, com o desencadeamento de
processos erosivos. Cabe ressaltar que os emissários de sistemas de águas
pluviais conduzem grande vazão, resultante do recolhimento de bacias
representativas de grandes áreas em uma cidade (Figura 5).
Figura 5:
Escoamento de águas pluviais
Como
solução para o problema tem-se os dissipadores de energia nos locais de
lançamento, de modo que esta energia cinética não seja dissipada no meio
físico.
Um
outro caso é o dos fundos de vales. Para o caso de fundo de vales se colocam
duas alternativas, envolvendo a retificação de córregos:
-Retificação
do rio e a sua canalização, com a ocupação das áreas inundáveis pelo sistema
viário (Figura 6a).
-Retificação
ao mínimo do rio, e deixar o espaço inundável preservado (Figura 6b).
A
primeira solução contribui, sem dúvidas conforme o que já foi apresentado, para
a inundação, face ao aumento da vazão, e a necessidade de redimensionamento do
canal. Para o segundo caso, além de mais segurança, oferece a opção de se
utilizar o espaço inundável para paisagismo.
Figura 6: Opções
para o caso de fundo de vales: a) canalização b) respeitando o curso d’água
original e permitindo as variações sazonais
Um
segundo caso é com relação á variação do nível dos cursos d’água. O rio
periodicamente se enche, precisando de um espaço livre para a sua inundação.
Somado a isto, a impermeabilização da área contribui para o aumento da vazão
dos cursos d’água, e para a ocorrência de enchentes (Figura 7).
Figura 7: Níveis
de um rio nas fases de período seco e de cheias, e os riscos de inundação. a)
período seco, b) período de cheias
Também
pode pensar no caso de soluções mais ecológicas para os loteamentos,
reduzindo-se os desmatamentos e as áreas pavimentadas, bem como, a utilização
de parcelamento do solo e do uso e ocupação do solo mais favoráveis à
infiltração da água nos terrenos.
Desassoreamento
e retificação de córregos
O
desassoreamento assume geralmente um papel de socorro e de correção no sentido
de se proporcionar o escoamento das águas, e de se evitar enchentes. A
canalização de córregos muitas vezes é vista como a solução definitiva para
determinada área de uma cidade. Normalmente acontece em decorrência de um histórico
de enchentes em determinada área, e envolve financiamentos públicos junto a
determinados órgãos específicos para desenvolvimento urbano. Cabe considerar
que a canalização em si não pode obrigatoriamente resolver os problemas de
determinada área.
Vejamos
o histórico de um bairro, conforme ilustração descrita em Botelho (1985),
conforme ilustram as Figuras 8 e 9:
Figura 8: Um breve histórico de
ocupação, intervenção e evolução do meio físico em um determinado bairro.
Figura 9: Um
breve histórico de ocupação, intervenção e evolução do meio físico em um
determinado bairro (Continuação).
Por
este exemplo se pode observar que os problemas de escoamento de águas e
enchentes devem ser vistos de modo global, e não de modo isolado, ou somente quando
as disfunções se manifestam. O assunto é tema do planejamento e do
gerenciamento urbano, e, quanto maior é a evolução do problema, maiores são os
custos de solução, e a eficácia pode ter duração limitada.
Neste
sentido, considerando o aspecto de interdependência, se os subsistemas fluviais
estão interligados, os eventos também o podem estar; assim, o aumento da vazão
proporcionada pela presença do loteamento "C", na Figura 10, poderá ser percebido
para quem está na sessão de controle “S”, assim como, um assoreamento à
jusante, devido ás ações no loteamento “B” pode provocar um efeito remontante,
em se considerando
que o escoamento seja subcrítico, pois o escoamento subcrítico é controlado à
jusante, de modo que, muitas vezes um problema urbano não pode ser
obrigatoriamente resolvido procurando-se sanar o problema no próprio local,
mas, a solução deve ter ação global, mais ampla.
Figura 10: A
interdependência entre partes diferentes da cidade para com o problema de
enchentes
A geomorfologia e as intervenções
nos cursos d’água
As
intervenções antrópicas sobre os cursos d’água visam de modo geral, segundo
Cunha (2007):
-Efetuar
o controle sobre a vazão;
-atenuar
os efeitos de enchentes;
-extrair
cascalhos.
Como
ações normalmente efetuadas pode-se citar a alteração da forma da calha, com o
alargamento da seção e o aumento da profundidade, a mudança do material de
revestimento, e a retificação.
Algumas
observações podem ser consideradas conforme o relato, como:
-Os
efeitos colaterais da dragagem pode ocorrer em face do rebaixamento do nível de
base do canal, induzindo a processos erosivos nos afluentes tributários, e
posterior assoreamento;
-no
caso da retificação de um curso d’água, com a eliminação de meandros, aumenta o
gradiente hidráulico devido ao menor comprimento, induzindo ao processo erosivo
à jusante.
Bibliografia citada no texto:
BOTELHO, M.H.C. Águas
de chuva engenharia de águas pluviais nas cidades. São Paulo, Edgard
Blücher, 1985, 236p.
CUNHA,
S.B Geomorfologia fluvial. Geomorfologia
uma atualização de bases e conceitos, Rio de Janeiro, 2007, Bertrand
Brasil, pp.211-252