Marco Antônio de Morais Alcantara
#Ciclovias #IntervençãoUrbana #SatisfaçãoDoUsuário
Considerações iniciais
Os objetivos deste trabalho consistiram em analisar a justificativa
e a eficácia de uma intervenção urbana realizada com a implantação de uma
ciclovia; com a identificação das posturas dos cidadãos diante das inovações realizadas, como resposta ao entendimento destes quanto aos
possíveis aspectos vantajosos ou desvantajosos da proposta, assim como, de se
verificar o respaldo sobre a obra executada.
A cidade de Ilha Solteira, onde foi realizada a obra, localiza-se na margem paulista do Rio Paraná, logo abaixo da confluência com o
Rio São José dos Dourados. Dista 60 Km de Santa Fé do Sul, 42 Km de Pereira
Barreto, 70 Km de Andradina, 15 Km de Selvíria (MS), 170 Km de Araçatuba, 220
Km de São José do Rio Preto, 663 Km de São Paulo (ILHA SOLTEIRA, 1996).
Conforme dados do IBGE (2014), pelo censo de 2010 o município ocupa uma área 652,449
km², apresenta uma população que totaliza 25.064 habitantes e, 38,42 hab./km².
De acordo com IBGE (2014), informações do Departamento Nacional de Trânsito
(DENATRAN) indicam que em 2013 a cidade dispunha de 8182 automóveis, 260
Caminhões, 861 Caminhonetes, 306 Caminhonetas, 3598 Motocicletas, 1400
Motonetas e 94 Ônibus.
Metodologia utilizada na avaliação
A metodologia deste trabalho consistiu em: (i) caracterização
do município quanto ao sistema viário e a morfologia da cidade; (ii) identificação dos problemas de mobilidade e da intervenção realizada; (iii) pesquisa de
opinião e pesquisa de campo avaliando a eficácia e a utilização da ciclovia.
A pesquisa de opinião foi
executada entre 120 moradores vinculados à Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", os quais responderam em
anonimato a 10 perguntas de múltipla escolha. As questões eram de modo a se obter
informações destes quanto a três itens: (i) a condição da mobilidade, distinguindo-se
o tipo habilitação e os meios de transporte disponíveis, (ii) os deslocamentos predominantes do
entrevistado (iii) o mérito, a eficácia, e o grau de satisfação dos usuários.
Ainda, de modo a buscar informações quanto à apropriação da ciclovia pelos
ciclistas, e de buscar coerência quanto aos resultados sobre a aprovação da
ciclovia na pesquisa de mobilidade, foi realizada uma pesquisa de campo
configurando a sua utilização pelo público. Para isso foi analisado, por um
período de 3 dias, em 3 horários distintos, o fluxo de ciclistas, distinguindo-se os seguintes casos de comportamento: os que utilizavam a ciclovia, os que transitavam pela via, e os que utilizavam as
calçadas. Para melhor compreensão sobre a cidade e a proposta implantada, a Figura
1 ilustra um croqui, apresentando os seus principais setores, e os tipos de
vias existentes.
Figura 1: Configuração
dos bairros e vias de Ilha Solteira-SP
Distinguem-se, na Figura 1, as
unidades denominadas por "Passeios”, de forma retangular, as quais são internamente
dotadas de vias locais, cuja maioria delas são de 6,00 m de largura, sem calçadas para pedestres, e com grande relação entre os deslocamentos e o uso do
solo adjacente. Estas vias locais alimentam e são servidas por vias coletoras secundárias denominadas por "Ruas", também
apresentando 6,00 m de largura no leito carroçável, além de serem dotadas de calçadas e arborização. São normalmente
paralelas à Avenida Brasil. Estas vias coletoras secundárias, por sua vez,
alimentam ainda outras vias coletoras denominadas por “Alamedas”, dispondo elas de 9,00 m de
largura, calçadas para pedestres e arborização. Normalmente estas vias são ortogonais à avenida Brasil.
A Avenida Brasil é uma via
comercial, que recebe o transito das alamedas ou vias coletoras com maior fluxo de
tráfego, além de ela estar conectada, às extremidades da cidade, com o sistema viário
intermunicipal; é considerada pelos gestores locais como uma via arterial, pelo fato dela unir
partes diferentes da cidade, em especial as zonas Norte e Sul, porém, nesta via se tem grande relação entre os
deslocamentos e o uso do solo lindeiro por causa do comércio e dos estabelecimentos
relacionados à vida social da cidade. Finalmente, a via perimetral se constitui
em uma via que permite a conexão entre todas as alamedas, e os trevos de
acesso do município.
Alcantara et al (2013) destacam a descaracterização do
sistema viário original, com destaque à implantação de comércio em vias
coletoras secundárias, à convivência de áreas comerciais em locais que eram exclusivamente áreas
residenciais, em vias locais, e ainda, destaca a competitividade entre os
condutores pela Avenida Brasil, conduzindo-se a origem de conflitos.
Tendo em vista as condições de
topografia, infraestrutura, capacidade viária, e à própria definição do tipo de
sistema viário implantado, a Avenida Brasil tende a se constituir como a via de
maior demanda de utilização e de pluralidade no uso de tecnologia para transporte. Conforme
informações da mídia local, o uso abusivo da velocidade, a dificuldade de
conciliar os estacionamentos com o uso das vias, e os acidentes de trânsito,
implicaram na necessidade de buscar alternativas para a melhorias no tráfego de
Ilha Solteira (CARMO, 2011). Como alternativa, optou-se pela implantação de uma
ciclovia ao longo de todo o canteiro central da Avenida Brasil. De acordo com Assessoria de Imprensa (2010), do ano 2000 ao ano de 2009, foram registrados cerca de 800
acidentes envolvendo veículos e bicicletas, onde 380 necessitaram de socorros, conforme registros da Guarda Municipal da
cidade, e ainda, 6 deles foram com vítimas em situação fatal.
As lombo-faixas tem por
objetivos limitar velocidade de percurso dos automóveis na avenida à 40 km/h, havendo indicação
de velocidade para os motoristas. Entre a transição das zonas Norte e
Sul ela é interrompida, e existe uma região com a velocidade máxima limitada a
30 km/h, com sinalização na via (A VOZ DO POVO, 2011). Conta ela também com a
instalação de sinalização universal em alto relevo permitindo aos deficientes
visuais se locomoverem de forma autônoma, e identificarem a localização adequada
para se atravessar a via (Ilha de notícias, 2012).
A Figura 2 ilustra a ciclovia na Avenida Brasil, e lombo-faixa.
Historicamente o aspecto
linear influenciou significativamente a compreensão da cidade, em termos de sua
imagem, com destaque às zonas Norte e Sul, dotadas de equipamentos urbanos e de centros comerciais para
atender às respectivas populações. Após a implantação de novos loteamentos, quando da emancipação da cidade, esta veio a receber gradualmente uma nova configuração.
Os detalhes da ciclovia e a sua
importância são divulgados pela mídia local. A ciclovia apresenta faixas com a
largura de 1,5 m, e é dotada de lombo-faixas de 4 metros de largura, e
altura das sarjetas, de modo a serem utilizadas como o acesso a ciclovia para
os ciclistas e para a travessia de pedestres, e também, de maneira a impedir
que os automóveis trafeguem em alta velocidade.
FIGURA 2: Ciclovia na Avenida Brasil e lombo-faixa ao fundo
Alguns resultados da pesquisa e a discussão
O perfil de condutores e as tecnologias disponíveis na cidade
Uma questão que de início poderia ser levantada é sobre a demanda da cidade quanto ao tipo de infraestrutura implantada, ou, se ela favoreceria ou não a população alvo da cidade.
O
Quadro 1 apresenta valores sobre a identificação dos moradores entrevistados, quando interrogados sobre o setor da cidade onde eles habitam.
Quadro1 :Identificação quanto ao
local de moradia
|
|
Zona Norte
|
Zona Sul
|
Jardim Aeroporto
|
Jardim Novo Horizonte- CDHU
|
Centro
|
|
33
|
39
|
22
|
5
|
21
|
Total
|
120
|
Os valores apresentados no Quadro 1 estão em coerência com
as populações das respectivas áreas da cidade, sendo, os maiores para as áreas
tradicionais da cidade, a Zona Norte e a Zona Sul, seguindo-se pelos os casos
do Centro, e do complexo Jardim Aeroporto e a Nova Ilha, em conjunto. Finalmente,
têm-se o Jardim Novo Horizonte e o CDHU, setores menos populosos da cidade. A
Figura 3 ilustra a distribuição percentual da população entrevistada.
FIGURA 3 : Distribuição percentual da população entrevistada conforme os setores onde habitam
A
Figura 4, a seguir, procura apresentar o tipo de habilitação para condução, conjuntamente com
o tipo de tecnologia adotada para os deslocamentos dos entrevistados.
Legenda: 1-Exclusivamente motorista 2- exclusivamente ciclista
3- motorista-ciclista 4- exclusivamente motociclista 5- pedestre 6-
motociclista- ciclista 7- motorista- ciclista- motociclista 8- motorista-
condutor de mobilete 9- motorista-motociclista
Figura 4: Perfil de
habilitação e tecnologia adotada para deslocamento para a população
entrevistada
De
acordo as informações da Figura 4 o grupo mais representativo da população
entrevistada é aquele que se apresenta como "exclusivamente condutor de automóveis" no
seu dia-a-dia (31%). As segundas e terceiras maiores porcentagens são
representadas por “condutores de automóveis e ciclistas” (17%), e “condutores
de automóveis, ciclistas, e condutores de moto” (16%). Tais dados apontam que a
maioria dos entrevistados são condutores de automóveis, contudo, dentre estes,
uma parte se utiliza também de um outro tipo de tecnologia para realizar os
seus deslocamentos.
O perfil da população entrevistada mostra que pode haver pluralidade no tipo de
habilitação do condutor, e da tecnologia utilizada. Em vista disso, tomando se
por base as informações ora apresentadas na Figura 4, foi elaborada a Figura 5, a qual procura apresentar
o caso particular em que estão assinalados os motoristas de autos, em todas as
suas modalidades possíveis dentro do conjunto de motoristas.
Legenda: 1-Exclusivamente motorista 2-motorista-ciclista 3-
motorista, motociclista, ciclista 4- motorista, condutor de mobilete 5-
motorista, motociclista
Figura 5:
Caso particular dos que se intitularam motoristas e as suas atribuições
Nota-se, pela Figura 5, que dentre os que se enquadram como motoristas o valor percentual
dos que se atribuem "exclusivamente motoristas de autos" se limita em 43%, e que, o restante, dado por 57%, tem também outras atribuições em termos de
habilitação ou de prática para mobilidade.
A Figura
6 apresenta o tipo de frota disponível por domicílio.
Legenda: 1-Exclusivamente automóvel 2- exclusivamente
bicicleta 3- exclusivamente motocicleta 4- automóvel-bicicleta 5-
automóvel-motocicleta 6- automóvel-motocicleta- bicicleta 7- motocicleta-
bicicleta
Figura 6: Meios de
transporte da família dos entrevistados
A
partir das informações da Figura 6 se pode observar que os
domicílios que dispõem somente de automóveis ou somente de bicicletas se
constituem em minoria, e que, além de automóveis as residências que os dispõem também podem dispor de outros meios de transporte. Em vista disso, elaborou-se o
Quadro 2, procurando quantificar os extremos ora apresentados.
Quadro 2: Valores percentuais onde o automóvel
está presente em associação com outros meios de mobilidade
|
Valores percentuais com relação aos
domicílios
|
Exclusivamente automóvel
|
Automóvel, bicicleta, e moto
|
Automóvel e moto
|
10%
|
85%
|
5%
|
Observa-se pelo Quadro 2 que os domicílios onde se dispõe tanto
do automóvel como também de outros meios de mobilidade representam 85% do total.
Desta forma, então, com base nas informações das Figuras 4, 5, e 6, e do Quadro 2, considera-se
que a convivência da pluralidade nos tipos de mobilidade em Ilha Solteira está
coerente com a proposta de infraestrutura urbana implantada e avaliada quanto a sua importância e justificativa, quanto à implantação da
ciclovia. Os resultados também indicam coerência quanto ao que é apresentado em
Freitas (2014), onde, o crescimento das vendas de bicicletas se encontra em
crescimento no Brasil para os anos recentes, indicando haver um maior número de
utilizadores, assim como, também está coerente com as outras alternativas de
transporte que têm sido adotadas e apresentadas conforme INCT (2012), de modo a
se facilitar os deslocamentos em função das necessidades individuais. A Figura 7 apresenta os percentuais dos
entrevistados que se declararam motoristas ou ciclistas, relativos ao número de
entrevistados de cada setor.
Legenda: 1-Zona Norte 2- Zona Sul 3- Jardim Aeroporto-Nova
Ilha 4- Jardim Novo Horizonte-CDHU 5- Centro
Figura 7: Valores em
porcentagem dos motoristas e ciclistas por região
Com base nas informações da Figura 7 observa-se que os motoristas de autos estão
predominantemente nos setores mais antigos da cidade, Zona Norte, Zona Sul, e
Centro, enquanto que, os ciclistas estão situados predominantemente nos
loteamentos mais novos, o Jardim Aeroporto, o loteamento Nova Ilha, o Jardim Novo Horizonte e o CDHU. Observa-se que para as zonas Norte e Sul o perfil dos condutores se
aproxima muito sob o aspecto de mobilidade, sendo isto um fato interessante, visto
que se enquadram segundo a direção do eixo criada pela ciclovia.
O contexto da Avenida Brasil na vida dos moradores da cidade
Muitas das ciclovia que são implantadas não se configuram no contexto de utilização dos usuários potenciais, neste sentido, apesar de já se ter procurado contextualizar Avenida Brasil no sistema viário da cidade, a pesquisa procurou buscar relações entre a situação natural da via com os hábitos dos usuários para os usuários.
De modo a melhor se compreender a Avenida Brasil como um eixo importante de deslocamentos, e considerando as possibilidades de haver movimentos potencialmente competitivos, e também de modo a se compreender o papel da Avenida Brasil como via de preferência pelos condutores, foram elaboradas as Figuras 8 e 9; são apresentadas na Figura 8 as informações quanto à direção predominante dos indivíduos em seus deslocamentos, e, na Figura 9, as opções para o deslocamento, em alternativa à Avenida Brasil.
Legenda: 1-DireçãoNorte-Sul 2- Direção Leste-Oeste 3-
Direções iguais
Figura 8: Direção
predominante de circulação
Legenda: 1-Avenida Brasil 2- via coletora secundária
paralela à Avenida Brasil 3- via marginal
Figura 9: Utilização
preferencial de um sentido de circulação
Conforme
se pode observar através das informações apresentadas na Figura 8, a direção Norte-Sul,
onde está situada a Avenida Brasil, se apresenta como a direção predominante,
com 51% de resultados. Contudo, observa-se também que outras direções apresentam
importância, como no caso de "deslocamentos generalizados", representando
41%, e, na direção Leste-Oeste, existe um potencial para deslocamentos dado por
8%. Quanto à preferência de se utilizar a Avenida
Brasil, conforme informações da Figura 9, esta é adotada como via de acesso
preferencial para 50% das preferências, seguindo-se pela utilização
de uma via paralela à esta (a Avenida Brasil), dado por 34% e, por último, pela via marginal, dado
por 19%. Os valores que apontam para a
direção Norte-Sul como tendo a maior incidência de deslocamentos, assim como, de
preferências em realizar os respectivos deslocamentos pela Avenida Brasil, se justificam pelo desenho linear da cidade, em sua proposta original, e, sobretudo, do fato de que ela se encontra segundo o
eixo que abriga aproximadamente 60% da população, conforme Figura 1,
representadas pelas zonas Norte e Sul.
Os resultados das Figuras 8 e 9 se mostram também em acordo Lynch (2011) visto que, em razão da forma linear, a direção Norte-Sul se apresenta com maior "lisibilidade", acrescentando-se ainda que, a Avenida Brasil constitui-se a via de integração que une as duas partes.
Quanto à tendência para a diversificação das direções, estas estão justificadas em razão dos novos loteamentos, implantados na cidade após a sua emancipação, os quais trouxeram modificação na morfologia urbana, além de que, novas opções foram adotadas por moradores das regiões Norte e Sul.
Considerando alguns aspectos sobre as mudanças na morfologia da cidade, antes linear, para uma forma "genérica", são apresentadas nas Figuras 10 e 11 os valores percentuais referentes às regiões da cidade com relação aos deslocamentos predominantes (Figura 10) e às preferencias quanto à Avenida Brasil, como via adotada (Figura 11).
Legenda: 1-Zona Norte 2- Zona Sul 3- Jardim Aeroporto-Nova
Ilha 4- Jardim Novo Horizonte-CDHU 5- Centro
Figura 10: Direção
predominante em porcentagem
Legenda: 1-Zona Norte 2- Zona Sul 3- Jardim Aeroporto-Nova
Ilha 4- Jardim Novo Horizonte-CDHU 5- Centro
Figura 11: Utilização
preferencial do norte-sul em porcentagem
Através
das informações das Figuras 10 e 11 observa-se que o papel predominante da
direção Norte-Sul e da Avenida Brasil nos deslocamentos é significativo para os
bairros da cidade, exceto para os entrevistados do Jardim Aeroporto e do loteamento Nova Ilha,
justificando-se isso pela morfologia da cidade; contudo, observa-se também pelas
informações destas figuras que, mesmo para os moradores das zonas Norte e Sul, uma parcela não tem a direção Norte-Sul como predominante, assim como não
adotam a Avenida Brasil como preferência para os deslocamentos. Isto está em
acordo com a diferença entre as porcentagens da população
entrevistada residente nas zonas Norte e Sul, conforme apresentado na Figura 2, com
relação aos valores de deslocamentos predominantes e das vias adotadas, conforme
Figuras 8 e 9; que indicam que parte dos moradores das zonas Norte e Sul têm
outras preferências, dadas por outras opções.
Considera-se
em função informações das Figuras 8 a 11 que a Avenida Brasil ainda se
caracteriza como a via de grande competitividade, em razão de ser a mais
representativa tanto quanto à direção como pelas opções dos deslocamentos,
estando em coerência com a importância de intervenção na conciliação entre
meios de transporte.
O julgamento dos usuários sobre a obra viária realizada
Não
obstante as justificativas mediante a diversificação na forma de mobilidade, ou ainda mediante a
competitividade na direção Norte-Sul e na Avenida Brasil, procurou-se ouvir dos entrevistados o mérito da intervenção, no sentido de atribuir quem seriam os beneficiados em potencial, ou de tomar para si também a obra implantada.
São apresentadas nas Figuras
12 e 13 as informações com relação ao julgamento sobre a importância da
ciclovia implantada na cidade, de modo a se compreender o respaldo da população
à intervenção adotada. Procura-se distinguir porcentagens em termos de valores
totais (Figura 12), e dos valores por região (Figura 13).
Legenda: 1-Importante para todos 2- Importante para ninguém
3- Importante para alguns
Figura 12: Questionamento sobre a importância da
ciclovia
Legenda: 1-Zona Norte 2- Zona Sul 3- Jardim Aeroporto-Nova
Ilha 4- Jardim Novo Horizonte-CDHU 5- Centro
Figura 13: Valores em
porcentagem da razão da importância da ciclovia
Conforme
se observa dos resultados das Figuras 12 e 13, aparentemente, a maioria dos
moradores considerou importante a implantação da ciclovia quanto ao seu mérito,
o que está em acordo com a atual condição de pluralidade de meios de mobilidade
existente na cidade. Observa-se também que os maiores índices de aprovação
estão representados pelos entrevistados das Zonas Norte, e Centro, havendo um
decréscimo quanto ao mérito para os moradores das Zonas Sul, do Jardim
Aeroporto, Nova Ilha, e do Jardim Novo Horizonte e CDHU.
Embora no Jardim
Aeroporto e em Nova Ilha se apresente a maior porcentagem de ciclistas com
relação à de motoristas, conforme a Figura 7, o fato da menor aprovação pode se justificar, por outro lado, provavelmente
devido a menor dependência destes entrevistados com a Avenida Brasil, assim
como, da não predominância dos deslocamentos na direção Norte-Sul, conforme apresentou as Figuras 10 e 11. Estes também adotam deslocamentos preferencialmente por
outras vias, como a via marginal.
Nas Figuras 14 e 15, por sua vez, são
apresentadas as manifestações quanto à aprovação da ciclovia do modo como ela
foi implantada. Os resultados são apresentando em valores de porcentagens sobre
o total (Figura 14), e por regiões (Figura 15).
Legenda: 1-Aprova 2- Reprova3- Aprova com ajustes
Figura 14:Aprovação quanto
à ciclovia implantada
Legenda: 1-Zona Norte 2- Zona Sul 3- Jardim Aeroporto-Nova
Ilha 4- Jardim Novo Horizonte-CDHU 5- Centro
Figura 15: Valores
percentuais quanto a aprovação a ciclovia
Observa-se
pelas informações apresentadas nas Figuras 14 e 15 que uma porcentagem
significativa dos entrevistados aprovou a ciclovia segundo a maneira como ela foi implantada,
dado por 27%, contudo, a maioria da população não ficou satisfeita com a maneira
pela qual a ciclovia foi implantada, valor representado por 61%. Isto pode ser decorrente
do descontentamento da população quanto aos seus impactos. Uma observação curiosa
é que os maiores índices de aprovação da ciclovia como ela foi implantada, são
representados pelos setores 4 e 5, os quais não validaram a importância da
ciclovia, enquanto que a predominância de casos de aprovação com ajustes, com
relação à maneira como ela foi implantada, está representada pelos setores que
validaram a proposta em sua essência. Neste sentido, são apresentados os
impactos positivos ou negativos causados pela ciclovia, sendo, na Figura 16, os valores
totais em porcentagem, e na Figura 17, discriminando-se por área conforme os
relatos dos entrevistados.
Legenda: 1-Lentidão 2- Eliminação de retornos 3- Imposição
aos hábitos antigos 4- Aumento da segurança 5- Nova opção lazer
Figura 16: Impactos
causados pela ciclovia em Ilha Solteira
Legenda: 1-Zona Norte 2- Zona Sul 3- Jardim Aeroporto-Nova
Ilha 4- Jardim Novo Horizonte-CDHU 5- Centro
Figura 17: Percentuais dos
impactos causados pela ciclovia em Ilha Solteira
Conforme
Figuras 16 e 17 os impactos negativos causados pela ciclovia estão presentes em
particular em face da lentidão, eliminação de retornos, e pela imposição às mudanças
de hábitos; desta forma se pode verificar que o desenho urbano está intimamente
relacionado com o modo de vida de uma população, em termos da validação e da
apropriação de um tipo de infraestrutura, principalmente quando se considera a
intervenção em hábitos antigos. O aspecto negativo mais
representativo para os principais setores foi a eliminação de retornos.
Com
relação à questão da eliminação de retornos, e à mudança de hábitos para
readequar os deslocamentos, isto pode estar associado aos aspectos da
lisibilidade gerada na imagem da cidade para se efetivar os deslocamentos,
conforme Lynch (2011), visto que, dentro da orientação proposta pela forma
original da cidade, a predominância das opções pela Avenida Brasil se justifica
pela topografia favorável, desobstrução, capacidade viária e fatores de
acessibilidade.
Com
relação à lentidão, este descontentamento pode possivelmente estar associado ao
disciplinamento imposto pela limitação da velocidade em até 40 km/h, visto que
esta via integra diferentes partes da cidade, e sempre foi de competitividade. Por
outro lado, os aspectos positivos se mostraram relevantes, pois um percentual
significativo da população também compreendeu a ciclovia como um fator positivo: pela
segurança e pelo lazer.
Dado ao fato que o usuário exerce um papel gerenciador em respaldo às propostas apresentadas, as Figuras 18 e 19 procuram mostrar a
opinião sobre os problemas mais relevantes do sistema viário, e que requerem
intervenção, de acordo com a pesquisa realizada. Na Figura 18 se refere aos valores globais e na Figura 19 aos
valores conforme as repostas dos entrevistados por região
em que moram.
Legenda: 1-Fluidez 2- Vagas em estacionamento 3- Segurança
4- Melhores condições de conexão
Figura 18: Aspectos onde há necessidade de intervir no
sistema viário
Legenda: 1-Zona Norte 2- Zona Sul 3- Jardim Aeroporto-Nova
Ilha 4- Jardim Novo Horizonte-CDHU 5- Centro
Figura 19: Aspectos onde há necessidade de intervir no sistema viário conforme as
repostas dos entrevistados por região
Observa-se
pelas Figuras 18 e 19 que as exigências do usuário para com o sistema viário, conforme o levantamento realizado, são de modo geral associadas preferencialmente com as questões de segurança e
de conectividade, em em menor prioridade, são levantadas as condições de fluidez e de vagas para
estacionamento. As reclamações pela capacidade viária e pela "relação do
deslocamento com o uso do solo lindeiro" se mostraram um pouco menos relevante
dentro das exigências do usuário, mas não são desprezadas. Considerando que dentre os
objetivos da intervenção um deles era a segurança, aparentemente esta veio como
parte das aspirações dos usuários.
A efetiva utilização da ciclovia
A seguir, nas Figuras 20 e 21, são
apresentados os valores médios relativos à pesquisa de campo com a contagem
sobre a utilização da ciclovia. De acordo com os dados apresentados, embora
aparenta haver oscilação de resultados, se observa que a maioria dos ciclistas tem
utilizado a ciclovia, dando indicativo de aprovação e incorporação da
infraestrutura implantada, para os três turnos observados. A Figura 19
apresenta a comparação, por turno, dos valores de ciclistas totais e os que se utilizam
da ciclovia.
Legenda: 1-1º turno 2- 2º turno 3- 3º turno
Figura 20:
Total de ciclistas e ciclistas que utilizaram a ciclovia
Legenda: 1-1º turno 2- 2º turno 3- 3º turno
Figura 21:
Comparação, por turno, dos valores de ciclistas totais e os que se utilizam da
ciclovia
Pela observação da Figura 21,
observa-se que as variações guardam relação com os horários e com o número
total de ciclistas. O horário de maior número de ciclistas é o do segundo
turno, o qual concentra o retorno dos estudantes e de trabalhadores. Em decorrência
deste maior número e com a maior competitividade na ciclovia uma parte dos
ciclistas migram para a rua ou para a calçada, o que pode ser verificado
através da Figura 21. No geral a
ciclovia, foi uma obra importante na melhor configuração do transito de Ilha
Solteira. Garantiu melhor acessibilidade e mobilidade a uma boa parcela da
população. O público alvo, os ciclistas, tem utilizado a mesma em sua maioria.
Todavia ainda existem trechos polêmicos, que precisam ser novamente analisados.
Para garantia de um trânsito seguro, é necessário empenho de todos e a ciclovia
contribuiu bastante para isso.
Conclusão
Pelo
que se depara no estudo realizado, conclui-se que:
-A
exemplo do município de Ilha Solteira, a pluralidade nos meios de transporte é
um assunto de relevância, tendo em vista a pluralidade de frota que os
domicílios dispõem, e em razão da versatilidade que tem os condutores atuais em
termos de habilitação e de hábitos de mobilidade;
- o
assunto mobilidade urbana afeta a maioria das pessoas em áreas urbanas, não se
restringindo o assunto de ciclovias somente aos que são exclusivamente
ciclistas;
-a
estruturação dos transportes tende a criar eixos por onde pode ocorrer a
competitividade entre os condutores, de modo que as ciclovias são justificadas
como forma a conciliar os diversos meios de mobilidade urbana.
-as
intervenções em obras de infraestrutura devem contar com o respaldo da
população, de modo que estas possam ser incorporadas ao hábito de serem
utilizadas.
Bibliografia
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A cidade e o urbanismo. Lisboa, Piaget, 1995, 141p.
LYNCH, K. A imagem
da cidade. Lisboa, 2011, edições 70, 198p.
RODRIGUES, F.M.
Desenho urbano, cabeça, campo e prancheta. São Paulo, 1986, 116p.
Sobre o autor:
*Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.
Contou-se com o apoio da aluna Fernanda Geovanna Alves da Silva Martins, bolsista de iniciação científica pela FAPESP em 2013, para a colaboração neste trabalho.