Marco Antônio de Morais Alcantara
Consideremos o histórico da apropriação dos materiais. Podemos pensar de início em algum conhecimento empírico, assim como na abundância destes materiais. Eles foram sendo incorporados ao uso mediante as necessidades humanas. Com o decorrer dos anos, e do desenvolvimento das civilizações, estes passaram a ser explorados de modo científico, de onde se conseguiu adequá-los às necessidades mais específicas, as suas propriedades foram otimizadas para o uso. Pretende-se discorrer sobre a forma de apropriação dos materiais e as contingências criadas para a disseminação destes na sociedade, com base em critérios de desempenho, humanos, ambientais e empresariais.
Os primeiros materiais utilizados pela humanidade foram as argilas, a madeira, o couro, as fibras e as pedras. Estes vieram prontos para a utilização, devendo ser entendido o manejo sobre eles. Com o passar dos tempos, apareceram os materiais fabricados pelo homem, dentre eles os tijolos, os metais e os vidros. Observa-se que estes materiais remontam de civilizações antigas, e têm sido aperfeiçoados até os dias de hoje.
Conforme os períodos que se sucederam na história do homem, diferentes tipos de materiais tiveram relevância, em períodos que marcaram a história, e o contexto de tais períodos influenciaram no incentivo para a descoberta e no desenvolvimento de novos materiais. Dentro da sequência apresentada no parágrafo anterior pode-se citar o caso dos polímeros. Como períodos relevantes, cita-se como exemplos a revolução industrial e as guerras mundiais, que foram importantes no sentido de se fomentar a criação de novos materiais, e de demanda.
Como dito, de modo diferente da apropriação e do conhecimento empírico, houve um estado de domínio sobre os materiais, de modo a se conceber os materiais conforme o desempenho requerido, com base na intervenção sobre as suas microestruturas.
Foram identificadas famílias de materiais, com base nas suas microestruturas, distinguindo-se em particular os casos dos materiais cerâmicos, metálicos e materiais orgânicos; posteriormente estendeu-se para os casos dos materiais compósitos, semicondutores, e biomateriais.
Este desenvolvimento hoje tem sido alcançado graças ao conhecimento da “Ciência dos Materiais”.
A problemática sobre a seleção e a decisão sobre os materiais
Diante da existência de diferentes tipos de materiais para a engenharia, qual seria o material desejável para a elaboração de um produto?
A princípio, considera-se a necessidade do atendimento dos “requisitos de desempenho”. Estes são ditados pelo projeto.
Dentre os que possam atender, deve-se observar hoje pelo caráter sustentável, pelo custo e pela reutilização ou reciclagem.
O caráter sustentável, como se tem ressaltado, é caracterizado pela utilização de insumos renováveis para a fabricação, que não gere poluentes durante a fabricação, e que apresente baixo consumo de energia, ou que dependa de enegia de fontes renováveis.
A durabilidade dos materiais também é importante para definir um caráter sustentável, visto que diminui as demandas para se fabricar outros, novamente, e desta forma insumos sejam poupados da natureza.
O custo dos materiais é relevante, contudo, este não pode ser dissociado do desempenho e necessidades de manutenção.
O custo pode ser compreendido em termos de custo de produção, por habitação, e por desempenho do material, como por exemplo, consumo de cimento por unidade de resistência.
Alguns aspectos sobre a gestão de qualidade da construção civil que tocam os materiais
Os materiais devem atender a aspectos específicos, com propriedades fundamentais inegociáveis e resultantes de características específicas.
Diferentemente de um processo “artesanal”, a construção hoje passa por processos de qualificação e de certificação de produtos.
Os produtos, uma vez aplicados, deverão apresentar um comportamento determinado segundo padrões que ditam o desempenho necessário.
A situação dos materiais diante das etapas de um empreendimento
A cadeia produtiva pode ser dividida em etapas, das quais se inserem oportunidades de intervir na gestão e definição dos materiais.
Planejamento: É este o momento do qual se pode identificar as necessidades e demandas, incluindo os estudos de viabilidade. É o momento que ainda permite de ver, rever, e modificar as proposições.
Projeto: O projeto normalmente envolve as atividades de consultoria e especificação dos materiais. Faz-se a concepção do empreendimento, estimando-se sobre a qualidade dos produtos e o desempenho provável.
Fabricação, produção e distribuição: O “modus operandi” desta fase deverá estar em compatibilidade com o ambiente.
Execução: É a fase de materialização de tudo o que foi planejado e projetado, com base nos insumos, recursos materiais e humanos.
Operação, uso e manutenção: Envolve todas as atividades envolvidas no empreendimento e no entorno dele, por seus usuários, operadores, empresas de serviço e terceiros, é nesse momento que se pode ver o desempenho real do empreendimento.
Aspectos de gerenciamento sobre empreendimentos civis que afetam os materiais
A qualidade de um empreendimento está associada a produtos, serviços e processos gerenciais.
Os sistemas de gestão destes processos estão integrados com base nos seguintes subsistemas:
Gestão de segurança e saúde: Estão comprometidos com a eliminação de riscos e a garantia de bem estar dentro das relações de trabalho.
Gestão da qualidade ambiental: Está relacionado à gestão ambiental no sentido de se fornecer o menor risco de degradação ambiental. Incentiva investir na recuperação de áreas degradadas e em programas de educação ambiental. Ainda, prima prevenção no sentido de prevenir a poluição ambiental, reduzindo impactos ao meio ambiente. Procura integrar a gestão do aproveitamento de resíduos, em consonância com a resolução CONAMA 307.
Gestão de responsabilidade social: Neste tipo de gestão se associa o ser humano. Em se tratando de empresas, estão incluídas questões éticas, como, evitar o trabalho infantil, não aceitar regime de escravidão, assim como, se respeitar os contratos formalizados, e ainda, abolir todo tipo de assédio moral, por razões ideológicas, pol[iticas, religiosas e de nacionalidade.
Gestão da qualidade de um produto: Este busca referências em normas técnicas, as quais por sua vez buscam padrões e requisitos a serem atendidos pelos produtos. São realizados ensaios para a verificação das características e potencial para o atendimento dos requisitos.
Alguns aspectos sobre as etapas do empreendimentos e os materiais
Área de projeto: na fase de projeto é constituída uma equipe de trabalho. Envolve profissionais com habilidades específicas, e tem um coordenador de equipe. Como já ressaltado, nesta fase os materiais são selecionados para a obra com base nos requisitos de desempenho, e a qualificação dos materiais. O máximo de informações sobre um material deve ser tomado nesta fase. Nesta fase são definidos os detalhamentos e informações que seguirão para a obra.
Área de execução: A execução se constitui na materialização do projeto, razão pela qual as decisões e detalhamento de projeto devem estar bem estabelecidas. A fase de execução depende muito da capacitação da empresa para com produtos e técnicas, principalmente para os casos de materiais novos.
Certificação e qualidade dos materiais
O controle de qualidade apresenta alguns aspectos importantes, além dos tecnicos dos materiais, por ser ele de caráter público e social.
Se por um lado ele pode ser realizado pelo fabricante, para garantir se os seus produtos estão atendendo aos requisitos de desempenho, ele pode ser feito também pelos clientes quando no recebimento de lotes, para atestar sobre a qualidade e a conformidade dos produtos adquiridos.
Além destes, o controle de qualidade pode ser feito também nos postos de distribuição.
Sob a avaliação de um produto, se pode considerar os aspectos de um lote em particular, ou de um processo repetitivo, envolvendo, então, um estudo sistemático.
Nos casos de avaliações com suporte laboratorial pode se considerar que o custo para isso não é admissível para todas as empresas. Este tipo de avaliação pode ser imprescindível em alguns casos, porisso, de modo a poder orientar construtores e empreendedores, existe um tipo de avaliação que melhor atende o setor da construção civil.
Neste tipo o certificado de qualidade de um produto é dado com base em avaliações periódicas, em amostras coletadas em distribuidores, lojas e fábricas, a partir de avaliações periódicas do controle da qualidade do produto.
Falando em materiais certificados, cabe considerar que o interesse não é apenas do fabricante, do empreendedor ou do construtor, e ainda do usuário, mas de toda a sociedade, a partir de onde são levantados os programas de qualidade fomentados pelos órgãos públicos de governo, e substores da construção, de forma a fortalecer o setor.
Bibliografia
ISAIA, G.C Introdução ao estudo da ciência e da engenharia de materiais. In: MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL E PRINCÍPIOS DE CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS, v.1, São Paulo, 2017, IBRACON/GERALDO. C. ISAÍA, p. 1-32
MITIDIERI FILHO, C.V; D’ALMEIDA GUERRA, M.A Qualidade e desempenho na construção de unidades habitacionais. In: MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL E PRINCÍPIOS DE CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS, v.1, São Paulo, 2017, IBRACON/GERALDO. C. ISAÍA, p. 33-78