domingo, 20 de novembro de 2016

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO DE INFRAESTRUTURA URBANA: OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO E DE TERRA



Marco Antônio de Morais Alcantara

#MateriaisDeConstrução #PavimentaçãoUrbana

Nesta postagem se procurará apresentar os principais materiais utilizados em obras de infraestrutura urbana agrupados conforme os aspectos e peculiaridades comuns, assim como pelo papel funcional ou de características de sistemas que eles podem oferecer. Inicia-se pelos casos dos solos e rochas. 

O solo

O solo é um material básico em obras de infraestrutura urbana. Os que são objetos de utilização ou de intervenção podem ser de tanto de horizontes superficiais como profundos, e quanto à procedência podem ser tanto de origem local, podem ser transportados. Em face da grande variabilidade existem classificações e especificações para os solos quanto aos tipos de aplicação.

As propriedades gerais de interesse dos solos são a capacidade de suporte, a qual é avaliada em função Índice de Suporte Califórnia (ISC); as condições de consistência e de plasticidade, definidas em função dos índices de consistência dos solos; a fluência, dada em função das condições de adensamento; a absorção d’água, a permeabilidade, e a expansão, que variam normalmente em função das dimensões das partículas, da composição química e mineralógica e da estrutura.

Os solos cumprem importantes papéis nas obras de infraestrutura urbana, tais como como subleito, no fornecimento de materiais para obras de reforço e de aterros, assim como para receber a vegetação para fins de estabilidade.

Os sistemas de classificação de solos procuram enquadra-los conforme o comportamento geotécnico. Neste sentido os índices de consistência associados à distribuição granulométrica podem ser utilizados de modo a se estabelecer limites para o comportamento assim como estabelecer um modelo de previsão. A carta de plasticidade para solos estabelecida por Casagrande procura correlacionar o índice de plasticidade com o limite de liquidez.  A classificação T.R.B procura apresentar os solos potencialmente favoráveis para serem utilizados como subleito, distingue os solos em solos finos e em solos grossos, e procura aliar as suas propriedades de consistência.

Existe uma diferenciação para solos tropicais, estabelecida apresentadas em Nogami (1982), e Vilibor et al (2009), a qual procura distinguir os solos tropicais em função do comportamento tecnológico. São levadas em considerações variáveis que, quando agrupadas, avaliam condições de cimentação natural e os baixos níveis de erodibilidade; os solos são distinguidos quanto ao seu caráter laterítico, compreendido este termo como um comportamento de engenharia, distinguindo-se dos solos saprolíticos.

Havendo algumas distinções básicas para estes dois tipos de materiais, os solos do tipo lateríticos apresentam normalmente menores amplitudes de limites de plasticidade, menores valores de expansividade, e maior homogeneidade. Estas diferenças estão relacionadas à gênese destes dois tipos de materiais, sendo os solos do tipo saprolíticos mais jovens, tendem a apresentar em sua composição minerais mais jovens do tipo 2:1, menos estáveis, e também de materiais com ocorrência localizada, implicando em heterogeneidades. Os solos lateríticos são dotados de materiais cimentantes, como argila, matéria orgânica e óxidos de ferro e alumínio, os quais podem formar complexos.

Alguns tipos de solos são conhecidos pelas suas denominações, como é o caso do solo arenoso fino laterítico. Este tipo de solo tem ocorrência em grande parte do território do estado de São Paulo, apresenta como propriedade a sua elevada capacidade de suporte, particularmente quando avaliado o Índice de Suporte Califórnia.

Tabela 1: Informações comparativas entre os solos lateríticos e os solos Saprolíticos.

Laterítico
Saprolítico
Grau de erodibilidade
Baixa

Expansividade
Baixa
Variável com o tipo de argilo-mineral, podendo ser expressiva
Índice de Plasticidade
Baixa, da ordem de 10
Podendo variar a valores da ordem de 70
Índices de compactação
Elevados
Variáveis
Homogeneidade
Homogêneos
Podendo apresentar variações de cor, textura e mineralogia
Mineralogia
Minerais de neo-formação, caulinitas, óxi-hidróxidos de ferro e alumínio, quartzo.
Minerais mais próximos da rocha-mãe. Micas, minerais tipo 2:1, quartzo
        
Existem ainda os casos dos solos moles, com elevada fluência e baixa capacidade de suporte, e que são encontrados em várzeas e em aluviões.

Rochas e materiais britados

Quanto à origem e ao processamento estes materiais podem ser ditos como naturais ou artificiais. No primeiro caso têm-se os seixos, cascalhos, pedregulhos de cava e areias naturais. No segundo caso, de materiais britados, têm-se as britas dentro das diversas graduações, e o pó de pedra, o qual é um tipo de fíler. A disponibilidade destes materiais para a obra pode ter importância regional, em função da geologia, a qual define a exposição de materiais locais para a exploração de pedreiras.

Conforme a granulometria, estes materiais podem ser classificados em agregados, pedregulho, areia e fíler. As propriedades destes materiais são reconhecidas como: a resistência mecânica, a aderência ao material ligante, a durabilidade, a resistência à abrasão, o grau de sanidade, e as condições compacidade, de forma a se promover um arranjo compacto.

A resistência mecânica do material e a resistência à abrasão estão relacionadas às resistências e durezas da rocha de origem; a aderência, a rugosidade; a compacidade está relacionada à granulometria e a forma dos grãos; e a durabilidade, à susceptibilidade ao intemperismo da rocha. Bem como ao grau de sanidade. Importa também que os materiais granulares não carreiem junto com eles finos, principalmente os de natureza expansível, de modo à causar danos quando na aplicação.

Os materiais à base de pedra bem como outros materiais granulares são utilizados na construção de enrocamentos, reforço de solos, construção de bases e de sub-bases, além de serem aplicados na construção de gabiões, drenos e no paisagismo.


Solos estabilizados

Quando o solo de uma determinada região não está adequado para a utilização, este deve ser melhorado, havendo métodos específicos conforme os tipos de solos e os tipos de melhorias desejadas. O processo de atribuição de melhorias ao solo é denominado de “estabilização de solos”, e esta tem finalidades específicas, podendo um determinado solo ser “estabilizado” para uma determinada situação de trabalho, e não o sendo para outra.


Solo brita e brita graduada


Os dois casos compreendem mesclas de solo e de material britado. No primeiro caso, tem-se o caso de um solo estabilizado granulometricamente. O material britado vem a melhorar os índices de resistência e de níveis de fluência do material solo. No caso de brita graduada, uma mescla é proporcionada de modo a se alcançar os maiores índices de compacidade, e o solo atua como aglomerante, um rejunte.

O comportamento do conjunto será ditado pelo elemento que estiver em maior proporção.

Materiais aglomerantes e aditivos

Os materiais serão ditos aglomerantes conforme a função que eles estiverem cumprindo, isto é, se atuam como aglomerantes. Neste sentido, mesmo o solo pode ter função aglomerante, do tipo quimicamente inativo. Cada aglomerante tem o seu mecanismo de atuação, suas vantagens, e as suas limitações. A seguir são apresentados os principais tipos de aglomerantes utilizados em obras de construção urbana.

Cimento Portland

O cimento Portland é um aglomerante quimicamente ativo do tipo hidráulico, e atua mediante a hidratação dos silicatos e aluminatos de cálcio nele presentes. Permite a obtenção de materiais com resistência variável, em função de suas variações de composição, e dosagem adotadas, sendo normalmente adequada com as solicitações do tráfego urbano. Este material está sujeito a apresentar retração de secagem, devendo ser isto um motivo de preocupação quando na aplicação. Quando endurecido apresenta rigidez e baixa resiliência e durabilidade.

Materiais betuminosos

Os materiais betuminosos mais utilizados são resultantes do refino do petróleo ou do betume. O cimento asfáltico de petróleo (CAP) é utilizado frequentemente em serviços de pavimentação, apresentando as suas propriedades específicas. Como as principais propriedades deste material pode-se apontar: a consistência, a viscosidade, a aderência ao substrato, e ação aglomerante, e o nível de fluência. Para a aplicação destes produtos, a viscosidade precisa ser rebaixada, o que pode ser feito por meio do uso do aquecimento, o que pode tornar o trabalho periculoso, pois, a partir de temperaturas de aproximadamente 180 ºC pode se alcançar o ponto de fulgor do material. De modo a se evitar o uso de calor, existem as emulsões e as soluções asfálticas. 

As soluções asfálticas são o resultado da fragmentação e dissolução do material asfáltico em um solvente orgânico compatível, do tipo hidrocarboneto; com a evaporação do solvente, e com a polimerização do material asfáltico, a membrana é formada. Uma emulsão asfáltica consiste na dissolução do material asfáltico em água, com o auxílio de um agente emulsificante. Desta forma, com a evaporação do solvente ocorre também a polimerização e formação da camada de asfalto. O uso das soluções e emulsões asfálticas são mais favoráveis do que o uso do CAP quanto a alguns aspectos, como pelo fato de eles serem aplicados a frio, tendo suas viscosidades já rebaixadas, e ainda apresentam melhor aderência ao substrato no caso de este estar úmido; porém, apresentam menor teor de material asfáltico e menor durabilidade do que o CAP.
  
Os materiais betuminosos apresentam como limitações a sensibilidade à temperatura, aumentando o nível de fluência; apresentam ainda a dissolução frente à presença de óleos solventes orgânicos oriundos do tráfego urbano, e a perda de componentes voláteis ao longo do tempo, implicando em enrijecimento a longo prazo, e se tornando duros e quebradiços. Os asfaltos melhorados com polímeros tendem a melhorar o material asfalto quanto as suas limitações, sobretudo em termos de fluência, ductilidade e prolongamento da elasticidade a longo prazo, e a durabilidade.

A impermeabilidade do asfalto é decorrente de sua repelência à água. Esta propriedade pode ser influenciada se a água atuar no material sob pressão.

É possível também de se obter materiais asfálticos resultantes da destilação do alcatrão, porém, com propriedades inferiores ás do CAP.

Os materiais asfálticos são comumente aplicados na fabricação dos seguintes sistemas: macadame betuminoso, camada de revestimento.

A lama asfáltica é um material muito utilizado especialmente para recapeamentos. É composta normalmente de emulsão asfáltica, fíler, areia e água.

 Aditivos estabilizantes de solos

Em primeiro lugar considera-se os aditivos do tipo “aglomerante”. Dentre estes, o cimento é considerado como um importante estabilizante. No caso ele pode atuar formando uma matriz com as partículas de solo, em especial quando se requer o ganho de resistência mecânica, para a produção do material denominado por “solo-cimento”. Ainda como estabilizante com função aglomerante existe o asfalto. O material asfalto pode ser utilizado como estabilizante atuando aglomerando as partículas, e diminuindo a permeabilidade, assim como a absorção do material.

Os estabilizantes podem ter também como mecanismos de estabilização o processo químico ou o físico-químico, ou ainda os dois conjuntamente. Destes se distingue os que atuam de modo a se promover um ataque alcalino ou ácido, promovendo alterações no comportamento físico-químico dos materiais com a melhor disponibilização de elementos mineralógicos do solo para reações químicas, com a formação de compostos cimentantes e estáveis. Dentre estes se tem a cal, que atua pelo caráter alcalino, e o ácido fosfórico, não utilizado no Brasil por razões econômicas, o qual atua com caráter ácido.

Os estabilizantes que atuam com ação química com os elementos do solo são utilizados normalmente quando se deseja promover o reforço de solos, conter reações expansivas por natureza mineralógica, ou quando se deseja construir uma base, no caso do tipo de solo se apresentar o mais compatível.

Os mecanismos de estabilização da cal são conhecidos, a saber: i) troca iônica, interferindo nas condições da dupla camada difusa e promovendo a floculação do solo; ii) disponibilização da sílica e da alumina presentes no solo para a solução do solo, em razão da elevação do pH do solo para valores em torno de 12,4; iii) possível a formação de silicatos e aluminatos de cálcio hidratados, cimentantes. Este processo ocorre a longo prazo.

As transformações ao solo a curto prazo podem ocorrer em virtude da troca iônica e a floculação, causando elevação no limite de plasticidade e redução no limite de liquidez, causando a redução do índice de plasticidade do solo e da expansão.  Estas intervenções são recomendadas em solo com elevada plasticidade e que se oponha aos trabalhos de compactação. O cimento Portland libera o hidróxido de cálcio como subproduto das reações de hidratação, razão pela qual ele também pode ser utilizado para fins de correção do índice de plasticidade. Neste caso tem-se o “solo melhorado com cimento”.

Os aditivos com atuação exclusivamente físico-química atuam onde se deseja modificações particulares ao solo como a retenção de umidade, de modo a se evitar o pó. Pode ser citado o caso do cloreto de cálcio.

De modo geral os aditivos atuam na fração fina dos solos, e apresentam mecanismos particulares de atuação. Muitos têm aplicação regional, e podem inclusive ser subprodutos de processos industriais, ou outros são produtos comerciais, e deverão atender a um dos mecanismos apresentados. Deve-se antes de tudo considerar que os aditivos atuam segundo os mecanismos próprios, e podem ser mais eficazes para determinado tipo de solo que outro, recomendando-se, antes de tudo, estudos prévios laboratoriais.


Referências

ALCÂNTARA, M.A.M. Estabilização química de solos para fins rodoviários: Técnicas disponíveis e estudo de caso dirigido à estabilização solo-cal de três solos de Ilha Solteira-SP. Viçosa: UFV, 1995, 91p. Tese (Mestrado)-Universidade Federal de Viçosa, 1995.

BAUER, L.A.F. Materiais de Construção. vol. 2. Rio de Janeiro: LCT. 1994. 531p.

NOGAMI, J.S. Características de solos tropicais. São Paulo, 1982, V Reunião Aberta da Indústria da Cal, ABPC,  pp. 47-55

MORETTI, R.S. Loteamentos: Manual de recomendações para elaboração de projetos. São Paulo, 1987, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 179p.

VILLIBOR, D.F; NOGAMI, J.S; CINCERRE, J.R; ZUPPOLINI NETO, A. Pavimentos de baixo custo para vias urbanas. São Paulo, 2009, Arte & Ciência, 193p.